- ̗̀Capítulo 42ˎ'-

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― A onde você quer chegar com isso?

― A verdade. É só o que quero de você.

Ele respira fundo.

― Aparentemente você já tem uma ideia bem formada do que quer acreditar, não é?! Alguém te contou alguma coisa? ― A postura defensiva dele era uma bandeira vermelha pra mim.

Eu o direcionei um sorriso amável.

― Eu não sou tão otária quanto você acha que eu sou. Eu percebi sozinha. Mas que bom que tocou no assunto, porquê algumas pessoas realmente me alertaram sobre você, e é interessante como fica muito mais difícil ignorar uma paranóia quando Amberly, Frankie, Daniel e até Kara a confirmam.

Ele franziu o cenho.

― Ah, claro. E seguindo as orientações do ministério da guerra você veio me encurralar sobre...?

― Não faça piada com tudo que eu digo, é cínico e desonesto. ― Digo cansada.

Eu respirei fundo e fui até ele, vagarosamente. Vi um traço de arrependimento no seu olhar, mas não o suficiente para ele se dignificar a dizer uma única palavra em sua defesa, apenas me escutou, calado. Me aproximei dele e segurei delicadamente seu queixo com a destra, erguendo apenas o suficiente para que ele focasse apenas nos meus olhos.

― Eu só estou fazendo tudo isso porque sabia que sustentaria a sua mentira. ―, Olha pra mim. Eu não quero perder o que a gente tem, por isso preciso que você verbalize o que está acontecendo. Quero que tente me entender, porque eu tentaria te entender se fosse você no meu lugar. Sinto que mereço saber o que está acontecendo, daddy. ― Meu tom continua suave.

Ele precisava entender que eu não queria brigar, eu não estava chateada com ele e sim com seus atos. Mas que estava disposta a superar tudo aquilo se ele renunciasse seu orgulho, ao menos um pouquinho e parasse de mentir para mim.

― Muito bem, ― Ele suspirou longamente e descansou suas mãos na minha cintura. ― Você tem razão, eu omiti e venho omitindo algumas coisas de você porquê...

Ele deixou a postura defensiva de lado mas ainda estava claramente suavizando a situação.

O walk-talk dele o interrompe no meio da frase, era Kara de novo. As palavras exatas dela foram: "Neném, acho que você vai gostar de ver isso, sério, venha logo, ou vou começar sem você".

E por um momento eu percebi que eu era mais otária do que imaginava. Um gosto amargo e ferruginoso invadiu meu paladar. Era ódio. Eu tinha escutado o suficiente. Fechei os olhos por um instante, esperava que estivesse num pesadelo, mas não estava. Negan me olhou com os olhos arregalados por um momento. Eu arranquei suas mãos da minha cintura com violência e ele se encolheu esperando um tapa que não veio. Eu me afasto em uma marcha pesada e forçada para sair da presença dele.

Antes de me trancar no banheiro, ainda pude ouvi-lo repreender Kara.

― Não me chame assim ― ele respondeu, nervoso. ― Estou a caminho.

Ele bateu na porta do banheiro algumas vezes, pedindo para que eu o ouvisse, mas sem sucesso ele respirou fundo e disse:

― Belle... Eu vou sair, e quando voltar vamos ser civilizados. ― em tom resignado.

Ouvi o som abafado da porta do quarto se fechar. Sentia que o chão havia se aberto bem debaixo dos meus pés.

A atitude dele me fez perceber algo que, até então, eu apenas desconfiava: que eu não era ninguém para questioná-lo ou cobrá-lo sobre qualquer coisa, não importava mais a sensação de liberdade que ele insistia em me fazer acreditar.

Eu era a esposa de número 23.

A traidorazinha que ousou desafiá-lo, a mulher que se tornou seu objeto de desejo por ser "difícil" ou "algo a ser conquistado". Eu era a moeda de troca não apenas dele, mas de meu irmão também.

Me coloquei a prêmio para salvar a vida de um idiota que eu sabia que mais cedo ou mais tarde morreria de um jeito muito brutal ou apenas estúpido.

Eu era algo. Não alguém. Não o amor da vida dele.

Só... algo.

Substituível, com prazo de validade e irremediavelmente sozinha.

Só isso.

Abaixei a cabeça e finalmente desabei em lágrimas, porquê eu fiz o que jurei não fazer. Me apaixonei por um cretino.

Me sento no chão e agarro meus joelhos, em um último ato desesperado eu me pego rezando...

"Deus, por que eu? Por que decidiu me castigar dessa maneira? É por que eu desprezo bandas que tocam música gospel? Sei que elas pregam Sua palavra, mas sejamos honestos ― a maioria delas é um lixo. É por que eu como carne vermelha na sexta-feira santa? É por isso? Se for por isso eu juro que eu me torno vegana. Por favor Deus, o que quer que eu tenha feito, qualquer coisa que seja, me perdoe. Por favor! Deus faça com que todas as noites que dormi com aquele homem simplesmente não tenham acontecido, que tudo isso seja uma alucinação pervertida da minha cabeça e nunca mais farei sexo na vida... Eu prometo"

E depois de cinco Ave-Marias e três Pai-Nossos, eu fecho os olhos e bato meus calcanhares um no outro, esperando que, assim como Dorothy em o Mágico de Oz, eu seja magicamente teletransportada para minha casa. Mas não tenho tanta sorte e não canto tão bem quanto ela.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora