𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚

- ̗̀ Capítulo 21 ˎ'-

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

       Eu tinha ido do céu ao inferno em questão de poucas horas. Mas me deixar me levar por sentimentos reativos não me parecia ser a coisa mais inteligente a se fazer levando em consideração que, supostamente, a vida de meu irmão estava em jogo.

       É claro, a possibilidade de Kara estar mentindo não podia ser completamente descartada, mas eu não contaria com essa sorte toda. E por outro lado, também não poderia questionar Negan tão diretamente sobre aquele assunto sem nenhuma prova. Resolvi que manteria a calma, jogaria um verde e avaliaria o comportamento dele para só então agir. Com a minha experiência, sabia que não podia confrontá-lo abertamente, pois, sempre que inicio nossas discussões com um tom acusatório ele faz piada com o que digo, e não darei a ele a chance de descredibilizar todas as minhas queixas com um simples "você entendeu tudo errado" ou alguma variação do gênero, não iria me expor a esse ridículo. Decidi que iria me ocupar pelo resto do dia com algo que me distraísse e impedisse de alimentar o meu ódio. Caso contrário não conseguiria sequer olhar para ele e forjar um sorriso amigável, o que seria péssimo para a minha dissimulação.

       Ainda não tinha certeza de qual seria o meu tom com ele de ali em diante, uma vez que chorar desesperadamente e pedir explicações enquanto arremessava coisas nele estava fora de cogitação. Resolvi que manteria o curso no qual eu tinha mantido a fé desde o início, e que em algum momento (caso Kara estivesse certa) resultaria na destruição de Negan: se eu lhe desse bastante corda.

      Eu ainda estava com o walk-talk em mãos enquanto caminhava até a sala na qual Negan se reunia com seus homens de confiança e líderes de comunidades próximas. Quando cheguei ao meu destino, empurrei o mais suavemente que pude a porta pesada, adentrei o ambiente e observei tudo. Ainda não sabia o que estava procurando nem se encontraria algo de fato, mas eu sabia que minha curiosidade mórbida não me permitiria ficar quieta.

       Para a minha surpresa, não foi tão dificil achar o que eu estava procurando, mesmo que eu não soubesse o que estava procurando até encontrar. Ainda havia um mapa aberto sobre a mesa metálica, meu coração bombeava tão forte em um misto de apreensão e ansiedade que pensei que fosse morrer a qualquer instante.
       Marcado em vermelho havia alguns círculos e setas sinalizando as estradas que ligavam o posto avançado do Oeste e o do Sul. Como se não estivesse claro o suficiente, havia as letras R.O.B por debaixo de um um X grande e algumas palavras soltas em uma caligrafia horrenda que eu conhecia bem. Apenas para confirmar, eu peguei o bilhete que ainda estava no meu bolso para conferir a semelhança. Aquela era a letra de Negan. E Rob estava, sem sombra de duvidas, fodido (tudo isso em vermelho).

       Encarei o botão do walk-talk meio hesitante, minhas mãos formigavam e minha alma agonizava enquanto eu tentava me recompor e me convencer de que aquilo tudo era apenas um pesadelo terrível. Um pico de coragem absurda ultrapassou meu medo bobo e quando dei por mim, minha boca dizia:

       ― Daddy? Você está aí? ― Um chiado se seguiu por um tempo.

       Instantes depois a voz dele ressoa e eu quase pude visualizá-lo sorrindo.

       ― Bom dia, Tinkerbell. Acordou agora?

       ― É... Bem, é uma forma de ver as coisas. Ainda estou cansada, a noite foi bem longa, graças a você.

       ― Não fale como se eu fosse o único culpado por isso. Você também foi bastante enérgica, se bem me lembro. E ainda apostaria todas as minhas fichas que faria tudo de novo, estou errado?

       ― O que quer de resposta? ― pergunto.

       ― Nada muito sujo, por favor. ― ele disse com o seu natural senso do próprio charme grosseiramente inflado.

       Se estivesse um pouquinho menos puta com ele, eu teria esboçado um sorrisinho. Decidi que empregaria a estratégia que tinha aperfeiçoado ao ter que lidar com Negan e seu charme: responder naturalmente como se fosse uma conversa inteiramente diferente.

       ― E onde você está?

       Alguns segundos se passaram, segundos que pareceram uma eternidade.

      ― No Posto Avançado do Sul. Você sabe, a merda com os saqueadores... ― Ele pareceu hesitante. Houve uma quebra no volume vocal, e eu não senti segurança alguma na voz dele.

       ― E quando eu vou poder te ver de novo? ― Minha voz soou doce, muito embora eu estivesse revirando os olhos com nojo de mim mesma ao final da frase.

       ― Não sei, Tinkerbell. Pode levar só mais algumas horas ou mais alguns dias, vai depender do andamento das coisas.

       ― Entendo daddy, leve o tempo que precisar. Mesmo assim, vou esperar que volte logo.

       Assim que soltei o botão, deixei escapar um longo suspiro e sete xingamentos que fariam até um zumbi tapar os ouvidos, envergonhado.

       Dê corda a ele...  — Eu digo a mim mesma enquanto observo as minhas mãos sobre a mesa tremerem impotentes.