- ̗̀ Capítulo 26 ˎ'-

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       — Como estava dizendo antes de você me interromper, eu saí com o grupo de Kara. Era uma coleta rotineira, mas aconteceu um imprevisto e fomos atacados por uma horda de zumbis. - Eu sentia o meu rosto queimar de ódio ao ter que me explicar daquele jeito tão humilhante. — Em um momento de desespero o meu mosquete travou, a bala ricocheteou no cano e voltou na minha mão, eu caí no chão, entrei em desespero. Kara me salvou, mas achou melhor que eu voltasse com o Daniel.

       Ao relembrar a cena, meu olfato trouxe de volta o cheiro de sangue e pólvora no ar. E eu dou graças a Deus pelo beijo de Daniel ter sido tão insignificante ao ponto de eu sequer me lembrar naquele momento.
A postura dele deixou claro que ele ainda estava em posição de ataque. Nada do que eu tinha dito o amoleceu.

       Aquilo era a gota d'água.

       — Kara te salvou? — Ele perguntou incrédulo, sua voz recuou algumas oitavas, porém ainda sentia o escárnio e o deboche presentes em sua voz.

       — Não acredita? — Eu sorri cansada e completamente indignada. — Pergunte a ela quando voltar, ou melhor, pergunte ao grupo todo se não acredita em mim. — Sinto uma lágrima pesada e quente escorrer pela minha bochecha.

       Ele relaxa a postura e arqueia suas sobrancelhas.

       Ah Deus! Preocupação.

       Pareceu se dar conta da merda que havia feito.

       — Belle... Eu... — Seu volume vocal tinha diminuído significativamente, ao ponto dele estar quase sussurrando.

       Ele tenta se aproximar de mim, mas eu o impeço.

       — Não, não toca em mim. Agora você vai me ouvir, — digo enxugando as lágrimas que sucederam a primeira e as senti ficarem cada vez mais difíceis de serem contidas. — Eu me entreguei a você... — minha voz saiu ainda mais trêmula. — Te contei toda a verdade... E está duvidando?! — Eu sentia que começaria a hiperventilar a qualquer momento.

       Começo a sentir uma pressão na garganta, uma queimação subindo pelas minhas bochechas. Pisco os olhos por algumas vezes e Negan subitamente parece não querer mais continuar com aquilo. Meus olhos queimam com lágrimas e ele lentamente tenta se aproximar outra vez. Um homem típico, desconfortável com a imagem das lágrimas de uma mulher. Viro-me e olho para o teto, tentando fazer essas lágrimas voltarem por onde vieram.

       — Amor... Eu... — Ele tenta reverter a situação, sua voz se torna subitamente mais macia que o normal.

       — Se eu fosse o seu amor, — digo erguendo o dedo indicador — você confiaria em mim. —, Eu estou cansada e machucada, e mesmo assim você quer discutir comigo? Vai se foder! — Digo e de repente sinto uma pontada em minha mão, acompanhada de um latejar infernal.

       Ele assente com indisfarçável preocupação e arrependimento.

       — Por ciúme ou por despeito, acha-se mesmo com o direito de querer me humilhar falando comigo como se eu fosse um de seus homens? — Eu questiono seriamente.

       Ele não conseguiu gesticular uma única palavra para se defender. Nos encaramos durante algum tempo em um silêncio profundo, até uma raiva súbita tomar conta de mim, desisto de esperar uma negativa vindo dele. Desci com certa dificuldade da maca e o empurrei para tirá-lo do meu caminho. Praticamente atravessei o Santuário sem o dar ouvidos, em uma marcha pesada e forçada. Ele me seguiu, em uma busca desesperada por perdão mas nada recebeu de mim até chegarmos no meu quarto.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora