- ̗̀Capítulo 65ˎ'-

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Belle

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

"Nada dura para sempre. O amor acaba, vira ódio. Amizades acabam e você ganha inimigos que sabem demais".

       Sempre achei essa frase meio hiperbólica, uma catástrofe exagerada de alguém super paranóico. Mas agora eu estava preocupada, porque ela começara a fazer total sentido para mim. E não era motivo de surpresa, uma vez que eu estava experenciando aquilo na prática.

Eu já tinha sido traída e humilhada o suficiente para me dar o luxo de continuar na fase de chorar desesperadamente a noite até dormir e acordar com os olhos vermelhos e tristes, parecendo um zumbi maconheiro.

Foi por isso que eu decidi reagir, para começo de conversa.

O homem que dizia me amar foi o maior responsável pelas minhas maiores desgraças. O "amigo" que eu acreditava ter, na verdade não era amigo porra nenhuma, e por algum motivo que eu desconheço, se juntou a uma mulher obcecada para me drogar e concretizar suas segundas intenções bizarras.

E listando todos os acontecimentos recentes, chego a conclusão de que a única pessoa honesta nessa história toda era Kara, que me odiava sinceramente e nunca fez questão de esconder suas intenções de mim. Não conseguia sentir sequer um pingo de ódio dela, por mais que tentasse.

O mesmo não se aplicava a Negan e Daniel.

Daniel era um pobre coitado incompetente, um desperdício de cabelo loiro. Negan era um maldito manipulador perigoso. E eu, bem, eu havia chegado ao meu limite. Meu ódio me fazia querer queimar aquele lugar, do teto ao solo. E com toda certeza, eu o faria assim que tivesse a oportunidade. Sendo assim, reconheço que Kara era a única pessoa verdadeiramente admirável naquela situação toda, uma vez que ela sempre me prometeu o pior e entregou sem falta.

Há muito eu havia passado da fase de querer ver Negan sofrer, agora eu queria tirar tudo que ele tinha. Porque foi o que ele fez comigo. E nada, jamais, conseguiria me demover dos meus interesses, uma vez que a lista de humilhações era extensa demais para ser ignorada. Eu aceitei ser a esposa número 24, fui resumida a propriedade dele, uma simples moeda de troca. Aceitei a humilhação de vê-lo agarrando outras na minha frente naquela maldita festa, fui punida por um crime que não cometi, deixei que ele me tocasse e acreditei na adoração dele por mim, fiz o maldito teste de gravidez e eu nem precisava citar a quebra de acordo com meu irmão para tudo parecer ruim o suficiente porque a lista de humilhações só crescia a cada novo dia naquele lugar.

Por isso, o meu primeiro passo seria sair do Santuário. E eu estava disposta a sair daquele maldito lugar da mesma forma que entrei: por um acordo.

Não fugiria apenas com a roupa do corpo e uma alma ferida, não mesmo! Eu sairia de lá com a cabeça erguida e levaria comigo tudo que eu precisasse. Todos ali haviam desperdiçado meu tempo demais para que eu simplesmente desse as costas a tudo que passei e fugisse com as mãos abanando. Não fiz nada de errado para sair dessa forma, sendo assim, eles não se veriam livres de mim até que eu conseguisse tudo o que queria, e para isso eu precisava de um tempo para me organizar.

Em uma guerra de egos, você precisa pensar, o inimigo do meu inimigo é meu amigo?  A resposta é: depende.

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

Após ter entregue a carta a Negan, eu me sentei confortavelmente na poltrona próxima a lareira da sala, acendi um cigarro e aguardei pacientemente o próximo demônio na qual eu faria um acordo, e como o esperado ela me procurou rápido e tão perturbada quanto eu achei que a culpa a deixaria.

— Você disse que tem algo para falar comigo. — A voz de Kara ressoou tanto quanto o som de seus passos igualmente irritantes.

Eu não me levantei, esperei que ela viesse até mim e fiz um gesto para que ela se sentasse na poltrona vazia a minha frente, e assim ela fez.

Sorri amigavelmente para ela e apesar de desconfiar da minha dissimulação, ela não sabia que eu já sabia de tudo, e nem era vantajoso para mim que ela soubesse. Acredito piamente na teoria que querer parecer burro é uma estratégia inteligente, mas querer parecer inteligente é uma estratégia burra.

— Tenho uma proposta que acredito ser vantajosa para ambas. — Digo após dar um trago em meu cigarro.

Kara riu alto, parecendo surpresa com minhas palavras, um acordo era tudo que ela não esperava de mim. Seu riso poderia ser facilmente confundido com desdém, mas eu sabia que não passava de alívio. Ela riu porque achou que seu segredo estava a salvo e o gosto doce da impunidade a embebedou. Ela se inclinou em minha direção e disse:

— Sou toda ouvidos, Isabella. — Ela sorriu, com sua face presunçosa.

Kara não tinha a menor ideia de que havia acabado de se tornar a minha melhor inimiga e que os interesses egoístas dela me conferiam um poder imensurável.

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora