― Você está sendo infantil.
― Infantis são as suas mentiras.
― Mas Belle, você não entende que eu só estava tentando te proteger!? Eu ia te contar tudo assim que você se adaptasse...
― Me adaptar ao quê? A sua vida de mentiras? Negativo.
Ele parou para respirar por um segundo, tentando manter a calma. Mas ele já estava todo rígido de tensão. Sua voz continha oscilações e eu sabia que ele iria começar a gritar a qualquer momento, seu pescoço estava avermelhado e os olhos estavam escuros demais por conta do ódio.
― Sabe o que é engraçado? Você morre de medo que eu aja igual a você. Brigou comigo porque sentiu ciúmes de Daniel, e agora está tendo um ataquezinho, apesar de ter saído para fazer sabe Deus o quê com Kara. Ah... Honestamente Negan, não se esforce tanto pra fingir que me ama, não preciso disso.
Ele sorriu de um modo cínico e falso.
― Não fiz nada com Kara, não tive mais nada com ninguém desde que você demonstrou interesse por mim. E se eu saí com Kara hoje foi simplesmente por...
― Não quero saber e não me importa. Já ouvi o suficiente. Entre você, Rob, Kara e o cacete a quatro, eu torço pela briga. Só estou chateada porque você brincou comigo, me usou, mentiu pra mim. ― Para não chorar na frente dele eu forcei uma risada ― Sabe qual a maior diferença entre você e eu, Negan? Eu não preciso mentir para foder com o homem que eu quero. Tanto é verdade, que eu nunca disse "eu te amo" para você.
Passei dos limites? Não sei, talvez sim.
Ele continuou encarando-me duramente enquanto fazia uma negação com a cabeça. Ambos estamos fervendo em frustração e a segundos de enforcarmos um ao outro. Ele destrói a rosa, que eu suspeito que era para ser minha, de modo furioso. Por um reflexo estúpido eu tento proteger a pobre rosa e um espinho se arrasta pela palma da minha mão.
― Qual é a porra do seu problema? ― Olho para minha mão e vejo uma linha fina e avermelhada se formar. Estou segurando gotas de sangue.
― Me sinto um idiota agora... ― Ele late, jogando a rosa arruinada no lixo.
― Não tanto quanto eu. ― Digo, e minha voz sai sem força alguma.
Negan observa com um olhar de completo asco o sangue na minha mão.
― Você pelo menos vai ter a coragem de negar que vem caçando meu irmão como um animal esse tempo todo, enquanto me fodia daquele jeito, todas aquelas vezes, dizendo que me amava? ― Eu o encaro com nojo estampado em meu rosto.
― Não pretendo negar. Eu fiz. E vou continuar fazendo tudo que estiver sob meu poder para matar seu irmão... ― Ele diz muito friamente.
A frase dele me atingiu como um soco no estômago, uma onda de raiva me atingiu, minha visão escureceu um pouco e eu me senti tonta por alguns instantes. As palavras de Negan foram interrompidas por um tapa meu. Um tapa forte que jogou sua cabeça para o lado e deixou a marca perfeita dos meus dedos em sua pele. Não sei de onde tirei tanta força e coragem, mas naquele momento, não consegui me importar com o que estava por vir. Todos os músculos do meu corpo tremiam com o esforço de conter a tempestade terrível que sentia formando-se dentro de mim.
Ele finalmente perde a paciência.
― Certo! Certo! Certo! ― Ele grita, com sua voz grave e profunda, mas não me intimida. ― Já acabou?
― Já! A gente já acabou. E a culpa é sua. ― Digo, com ódio.
Sua postura se torna subitamente vacilante por um breve momento.
― Acabou é o caralho! ― Ele puxa meu braço com força, forçando-me contra ele.
Eu começo a tremer por completo só de imaginar o que ele pretendia.
Ele toma meus lábios em um beijo dominador e selvagem, eu recuei, lutei e me debati freneticamente em seus braços em total desespero e medo. Ele usou toda sua força para me subjugar, mantendo-me presa a ele, até que eu estivesse completamente exausta de lutar. Senti um estranho langor se espalhar pelo meu corpo. Subitamente, sem que eu me desse conta, passei a corresponder aquele beijo odioso. Após algum tempo ele se afasta alguns centímetros do meu rosto e diz:― Por que está fazendo isso, Tinkerbell? ― sussurrou ele perto do meu ouvido. Percebi o tom sombrio familiar. Como sempre, eu o achei sinistro e excitante. ― Você mesma disse que poderíamos resolver isso. Então porque não fazer isso de uma forma melhor? O que acha? ― Perguntou ele de forma quase inaudível.
Quando não respondi a expressão dele ficou ainda mais séria e sombria.
Meu corpo já estava completamente condicionado a ele. Eu o encarei, com os olhos nublados pelas lágrimas atraídos por sua feição séria. Havia algo inquietante na forma como ele me olhava, como se quisesse me devorar, como se quisesse arrancar minha alma e engoli-la inteira. Nossos olhos se encontraram e eu soube que estava parada na beira de um precipício e que um buraco se abria sob meus pés. Me mantive estática, ele apertou os braços em volta de mim, enterrando os dedos na pele macia das minhas costas. Permaneci em silêncio, sem querer dar aquele último passo irrevogável. Não podia me expor a Negan daquele jeito.
― A gente pode resolver isso, Tinkerbell?
― É claro que a gente vai resolver isso, "neném". Porquê eu vou embora daqui amanhã.
Ele sorriu mas não tinha diversão alguma na sua face.
― Ah, não vai mesmo! ― A voz dele era desafiadora.
― Eu odeio você. ― digo por entre os dentes.
Ele manteve o maldito sorriso.
― E eu não tô nem aí. Você é minha. Não dou a mínima se você não me ama. O que importa é que quando eu a tenho em meus braços eu a sinto vibrar. E você não vai sair daqui enquanto eu não deixar.
― Você é louco.
― Sim. Você me deixa louco. ― Ele gemeu contra minha orelha.
Negan chegara àquela minha parte sombria e secreta que era um reflexo dos desejos deturpados dele. Era uma parte de mim que queria se perder completamente e ser dele. Por um instante eu achei mesmo que ele fosse derrubar todas as louças da pia, me colocar sobre ela e me comer do modo mais primitivo possível. No fundo era o que eu queria, quando ele respirava tão pesadamente e tão próximo de mim, era impossível não querer.
Ele suavizou a força do abraço, calmamente, só então eu percebi que eu também estava agarrando sua cintura e rapidamente o soltei. Quando ele finalmente me deixa livre, diz:
― Não vou levar em consideração nada do que foi dito hoje. Amanhã conversaremos sobre isso e eu vou avisando que eu espero um pedido de desculpas decente, mocinha. ― O tom dele era baixo e rouco. Ele tira um lenço do bolso de sua jaqueta e enfia na minha mão. ― Desinfete sua mão. Ou peça ao doutorzinho para fazer isso, tanto faz, mas não deixe isso aí inflamar.
Ele me dá um beijo na testa e sai da minha presença.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...