- ̗̀ Capítulo 47 ˎ'-

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Chegando lá, eu dou leves batidas na porta com os nós dos dedos e a voz dele soa:

― Pode entrar.

Eu obedeço, ele estava me esperando sentado na cabeceira da mesa. Negan faz menção para que eu me sentasse na cadeira ao seu lado. Eu escolho me sentar na outra extremidade da mesa, almejando manter distância. Ele assentiu e continuou a me encarar friamente.

Nenhuma distância no mundo acabaria com o ar de hostilidade entre nós. O ódio, a raiva e frustração eram quase palpáveis.

Voltamos à estaca zero.

Ele sabia disso.

― Não vai dizer nada? ― Perguntou ele, em tom rígido, travando o maxilar logo em seguida.

Se ele estava mesmo esperando que eu me desculpasse por algo que eu não fiz, ele ia se foder na minha mão.

― O que quer que eu diga? ― Pergunto, em um tom glacial. ― Não quero discutir com você. Você é o senhor da razão, nunca está errado. E só admite estar errado quando é vantajoso para si. Tudo bem. Mas eu não vou perder nem mais um segundo da minha vida com a sua conversinha. ― Ele pareceu um pouco chocado por eu ter derramado tantas palavras de uma vez sobre ele. ― Você já sabe o que eu quero, e o que eu quero é voltar para o Posto Avançado do Oeste, ficar longe de você, pelo menos por alguns dias.

― Ah, não vai mesmo! ― Ele me interrompe. ― Eu não posso levá-la e não colocarei meus homens nessa missão suicida.

― E quando foi que pedi para que alguém me acompanhasse? ― Pergunto muito seriamente.

― Se tá pensando que você vai sair por aqueles portões sozinha, com as estradas péssimas do jeito que estão por conta desse maldito clima, e ainda por cima, por causa desse seu capricho, você está muito enganada.

Quantas desculpas para me impedir de sair...

Eu abaixei a cabeça e pisquei os olhos algumas vezes, não estava acreditando que ele estava fazendo aquilo comigo.

― Tudo bem. Prometo não incomodá-lo mais com as minhas queixas. Querido marido. ― Digo "querido marido" com a mesma entonação de "filho da puta". ― Já posso me retirar? ― Pergunto, fazendo menção de sair.

― Belle, também não é assim. Belle, volta aqui. ― Ele se levanta e se aproxima de mim vagarosamente. ― Quando você coloca alguma coisa na cabeça é impossível de tirar, me atormenta até que aceite e realize suas vontades, e eu posso estar em parcial ou completo desacordo com o que me pede, mas eu o faço, humildemente ―, não digo nada, posso ignorar os detalhes, mas não posso ignorar o quadro geral. Não, espere um minuto. Adoro ser comandado por você, mas todo jogo tem suas regras. Não, não estou aborrecido. Não estou nenhum pouco aborrecido, não faça isto, não me olhe assim. Mas eu quero que saiba que eu tenho uma voz a ser respeitada neste lugar. Distinta, apesar de fraca diante da sua. E hoje, você não vai ter o que quer.

― Olha, não seja tão generoso, Deus pode ficar com inveja. ― Digo, insolente. ― Isso não é algo na qual você deva se sentir orgulhoso. Realizar minhas vontades é o mínimo que você pode fazer.

Ele me olhou estarrecido com minha afirmação.

― Está vendo só? Quando eu paro de agir como seu escravo, não sirvo mais para você. Sua egoísta egocêntrica.

― Não me olhe como se você fosse muito diferente de mim. Por acaso eu sirvo para você quando não faço suas vontades?

― Mas você nunca faz o que eu quero. ―, Belle, você é uma mulher livre, sempre foi, sempre vai ser. E é exatamente isso que faz você passar de algo maravilhoso a algo que eu, simplesmente, não quero ter que lidar.

― Eu sou uma mulher livre que não pode ir para onde quer. Não fode. ― Digo e cruzo os braços.

Nos encaramos por um longo tempo até ele finalmente dizer:

― Eu quero que você seja feliz, mas não vou te colocar em risco e fazer outras pessoas se fuderem para isso.

― Também quero que você seja feliz. Mas não vai ser mais as minhas custas. ― Eu respondo e me levanto para olhar bem para seus olhos.

Tinha sido ingênua ao acreditar que ele daria o braço a torcer uma única mísera vez. Mas eu não estava nem perto de desistir do que eu tinha me proposto, se era o que ele estava pensando.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora