Capítulo 23

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“Ele estava em conflito com ele mesmo, e eu diferente dele, queme ajudou quando precisei, não tinha como ajuda-lo

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“Ele estava em conflito com ele mesmo, e eu diferente dele, que
me ajudou quando precisei, não tinha como ajuda-lo.”

Eu não esperava ser afastada do meu pai tão rapidamente e, definitivamente, eu não queria isso, eu gostava de tê-lo por perto, ele é o meu refúgio, a minha segurança e fortaleza assim como sei que eu também sou dele.

Eu precisava que ele se recuperasse, não sabia por quanto tempo seriamos mantidos aqui nesse lugar minúsculo e sem qualquer ventilação natural. Para ser sincera, pouco ar circulava pelo ambiente e até o ato de respirar eu fazia com cautela para que sobrasse mais para ele.

O homem que nos servia de carrasco, sempre deixava pão, café e água, não trocávamos nenhuma palavra, com exceção do último dia que ele me tirou da cela e praticamente exigiu que eu me alimentasse, disse saber que eu apenas bebia o café para me manter aquecida e estava deixando todo o pão para o meu pai. Não posso afirmar com certeza, mas por um instante achei que ele estivesse...
preocupado.

Vi o próprio demônio entrar na nossa cela e tirar o meu pai de perto de mim, ele deixou o meu papá nu e descartou o meu sobretudo em um canto, eu não sabia se ele o mataria por causa da minha afronta.Eu o havia chamado de monstro, e acredito que ninguém jamais tenha dito algo parecido para ele.

Quando a porta se fechou e nós dois ficamos sozinhos no ambiente que parecia ainda menor por causa da imponente postura do homem, eu achei que fosse ser o meu fim, achei que ele me mataria sem pestanejar uma única vez. Mas não foi isso o que aconteceu.

Ele parou diante de mim, fúria crispava em seus olhos, ele queria me matar, eu senti no seu silêncio, os seus olhos atiravam adagas afiadas em minha direção e eu não podia fazer nada além de esperar o meu fim, para ser sincera não estava preocupada comigo e sim com o meu pai, por causa das minhas atitudes ele estava condenado a uma morte lenta e dolorosa.

Ele mandou que eu me levantasse, e contrariando todos os meus
instintos eu o fiz, me coloquei em uma posição de submissão, sabia
que era isso o que ele queria, o que ele esperava de todos a sua volta e implorei o seu perdão, não por mim, mas pelo meu pai eu o fiz.

Mas ele não acreditou em uma palavra sequer que saia dos meus
lábios, ele viu quão grande era a mentira, e que principalmente eu
não estava arrependida do que disse, para ser sincera eu queria dizer muito mais, e foi aí que ele permitiu. Por uma fração de segundos, eu enxerguei a compaixão em seus olhos, algo na minha situação o incomodava e ele permitiu que eu descontasse nele todas as minhas angústias e frustrações e assim eu o fiz.

Entre socos, tapas e arranhões nos lugares em que ele abaixou a
guarda eu descarreguei o meu ódio, as minhas inseguranças e
diferente do que eu pensava ele não revidou, não me machucou.
Ficou em silêncio até que a minha última força saísse pelo punho
atirado contra o seu peito, sem forças eu teria caído, mas ele me
segurou.

Suas mãos circundaram o meu corpo e eu me senti cuidada e
protegida, como quando a minha mãe ainda era viva, quando o meu pai não era dependente da bebida e de mim. Eu não deveria me sentir assim, ele havia sequestrado o meu pai, me mantido cativa e agora estranhamente, me deixava aliviar a tensão e cuidava para que eu não me machucasse.

Será que esse homem tinha algum resquício de humanidade dentro
de si? Comecei a achar que sim, mas ele rapidamente manteve a sua fachada, a sua pose de senhor do mundo, o todo poderoso,
entretanto ficou ao meu lado até que eu me acalmasse totalmente, ou até que o restante das minhas forças se esvaísse por completo.

Quando ele se levantou para novamente me abandonar em minha prisão, agora solitária, eu questionei sua atitude e percebi que ele estava tão perdido e incrédulo quanto eu. Ele tinha agido por impulso e senti que estava arrependido por isso.

Ele estava em conflito com ele mesmo, e eu diferente dele, que me ajudou quando precisei, não tinha como ajuda-lo.

Antes de sair, me garantiu que não mataria o meu pai e de certa
forma foi o seu último ato de piedade comigo, eu seria mantida aqui, mas só de saber que meu pai vivia já era um conforto e alivio imenso.

                             ***

— Luiza. — Ouço uma voz já conhecida me chamar, eu estava
tão exausta que nem vi quando meu carrasco se aproximou.

— Sim? — Sento-me rapidamente.
Tenho tentado não os contrariar, não ter meu pai por perto e não
saber como ele realmente está me assombra, então o que eu puder
fazer para colaborar eu farei.

— Tome um banho — fala quando me entrega uma sacola com uma
calça jeans, camiseta preta e um par de tênis. — Você vai sair daqui hoje, volto para buscá-la em meia hora.

AprisionadaPeloChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora