Capítulo 29

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Ficamos em silêncio até que a mulher volte com o bolo e o café, meu estomago embora enjoado pelo que vivi, ronca com a possibilidade de comer o pedaço do bolo que ela nos ofereceu.

Só quem já viveu com muito pouco ou quem passou fome tem a capacidade de realmente valorizar qualquer comida que lhe ofereçam.

Assim como eu, ele aceita o bolo e o café e nos alimentamos em um
silêncio confortável, a mulher também não se manteve conosco,
acredito que esteja providenciando o que ele pediu.

— Já está pronto, senhor. — Ela volta algum tempo depois e avisa.

— Ótimo, leve-a até lá. Vou precisar sair e em breve estarei de volta— avisa, pondo-se de pé.

— Eu a acomodo. — a senhora concorda.

Grazie— agradeço aos dois de uma só vez e deixo que a senhora
me conduza pela mão.

— Ângela — ele a chama quando já saiamos andando — Para onde
está indo? — pergunta.

— Levá-la até o quarto, senhor — explica

— Que quarto você preparou, Ângela? — Posso perceber a irritação em sua voz e fico com medo pela mulher.

— No andar superior, senhor — informa com tranquilidade na voz como se não o temesse.

— Ângela, ela não é uma hospede — fala com hostilidade a minha
posição aqui — Achei que estivesse claro.

— Não para mim, senhor, scusi. — Mas não sinto verdade em sua voz. — Eu não entendi a ordem perfeitamente.

— Corrija — Ele tenta manter a calma, mas sei que de fato não está calmo, percebo em cada olhar que ele lança a senhora.

— Onde devo colocá-la? — pergunta.

— Em uma das casas anexas. — diz com uma sobrancelha erguida como se tivesse certeza que a senhora sabia exatamente para onde deveria me levar.

— Impossível senhor, as que não estão ocupadas estão tão sujas que não teria condição de levá-la sem uma limpeza das grandes. Ela ficaria doente com a poeira e o mofo, providenciarei uma faxina amanhã — completa, já segurando em minha mão pronta para me arrastar para o mesmo caminho em que seguíamos.

— Não precisa se preocupar, eu me encaixo em qualquer lugar —
fico constrangida pela situação, eu realmente não era sua hospede, era sua prisioneira, não devia ficar em sua casa.

— Está tudo bem, criança — ela fala comigo, dando leves batidinhas em minha mão. — Amanhã providencio a mudança, tenho certeza de que o senhor Bruno não se importará de ceder um quarto da mansão por uma noite. — diz, encarando o homem como se o desafiasse a contradizê-la, quem era essa mulher afinal?

— Vá com ela, Luiza — Bruno nos dá as costas e sai em direção a mesma porta por onde entramos.

Já a senhora ao meu lado, sorri satisfeita por ter ganhado a batalha contra o chefe. Eu só esperava que ela não perdesse uma guerra por minha causa, eu sabia exatamente do que ele era capaz.

Ela me leva até um quarto imenso, acho que apenas dentro desse quarto caberiam três casas iguais a que eu morava com meus pais. Por isso, entrei receosa de quebrar algo aqui, uma cama com dossel coberta por lençóis brancos atrai a minha atenção, o tapete no chão é  tão felpudo que eu poderia dormir até sobre ele, como eu estava descalça pude sentir assim que pisei no ambiente.

— Menina, não precisa ficar com receio, ele não lhe fará mal — fala
como se lesse os meus pensamentos. — Tome um banho que vou lhe trazer um par de roupas e uma xícara de chá bem quentinho, sei que está precisando disso agora. Não sei o que aconteceu, mas se precisar de mim pode chamar, no banheiro você encontrará tudo o que precisa.

— Obrigada, dona Ângela — Chamo-a pelo nome que ouvi ele falar.

— Não por isso, querida. Vai ficar tudo bem. — diz como se
pressentisse que eu precisava não só ouvir, mas acreditar nessas
palavras.

Faço como ela disse e tomo um banho, quando retorno para o quarto ela já me espera, entrega a xícara de chá e me mostra a roupa sobr a cama, quando ela sai vejo que é uma roupa masculina, será que ela seria capaz de me dar um par de roupas dele?

Confirmo a suspeita ao sentir o cheiro impregnado nas roupas, estive até agora com um blaser seu sobre os meus ombros então sim, é uma roupa dele, mas como não tenho outra opção, visto e aperto bem o cordão da cintura, só assim para a peça se manter no meu corpo.Em seguida, deito na cama, mantenho o abajur aceso, chega de escuridão por hoje.

Rogo a Deus para que Ele me conduza a um sono tranquilo, que eu possa esquecer, mesmo que por um curto período de tempo tudo o que tenho vivido nos últimos dias, e principalmente o que vivi hoje. Inconscientemente, agradeço por ter sido salva, mesmo que ele tenha me salvado enquanto me mantem cativa. O chefe da máfia me livrou
do pior, por isso pedi a Deus que o protegesse e que nenhum mal se
aproximasse dele.

Contrariando o que pensei, não demorei a dormir. Pelo menos por
hoje, Deus ouviu as minhas preces.

AprisionadaPeloChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora