Capítulo 34

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Mas, assim que passei a primeira perna no parapeito da janela a
porta se abriu, meu coração quase parou de medo e eu quase me
atirei de uma vez para fora. O que não seria muito inteligente, se
tentasse com calma talvez eu conseguisse descer em segurança, me apoiando nas elevações da parede, mas pular de vez com certeza não seria uma boa opção.

Agradeci, por não ser o demone a entrar no quarto e sim Ângela. Não perdi o seu olhar de reprovação, ela trazia em suas mãos uma bandeja, acredito que contendo mais uma refeição deliciosa.

— Venha aqui, menina — a senhora fala, fechando a porta atrás de si, e eu como um ratinho acuado fui lentamente tirando a perna do local onde já iniciava a minha tentativa de fuga e voltei para dentro do quarto, indo em sua direção.

— A senhora vai contar para ele? — pergunto, temendo ouvir sua
resposta.

— Não, querida. Não vou, mesmo sendo o que deveria fazer eu não
vou contar — informa, segurando minha mão e me conduzindo até a
cama, quando eu sentei ela sentou ao meu lado.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer — ela começa. — Nem mesmo pelo
conselho que eu lhe darei agora. — Acenei que sim, ouvi-la era o
mínimo que eu poderia fazer, desde que cheguei aqui, ela tentou me confortar o quanto pudesse, então eu me calei para que ela falasse.

— O que você pensa em fazer, não é uma ideia muito inteligente. E
conhecendo esse lugar como a palma da minha mão, eu já adianto que você não terá êxito, meu amor, então esse não é o caminho que deve seguir, pode acreditar.

— E qual é o caminho? Eu não enxergo nada além desse — falo, as lágrimas dominando o meu coração.

— Talvez você não esteja procurando com os olhos corretos a sua saída, meu anjo, as vezes precisamos abrir os olhos da nossa alma. E é pelo coração que precisamos enxergar as coisas.

— Não entendo. — Suspiro.

— Mas vai entender, eu tenho certeza que sim, porque eu enxerguei desde o primeiro momento em que você entrou nessa casa. — Ela fala e eu de verdade, mesmo me esforçando não consigo compreender o que ela quer dizer com essas palavras.

— A senhora também é prisioneira aqui? — Levo uma das mãos a boca espantada pelo que disse, eu não sabia se ela tinha consciência da minha condição nesta casa.

— Não se preocupe, eu sei filha. — Tranquiliza. — E não, não sou
prisioneira aqui.

— Então a senhora poderia me ajudar a sair. — Praticamente
imploro.

— Eu posso te ajudar de muitas formas enquanto estiver aqui, meu anjo, te prometo que debaixo desse teto nenhum mal te acontecerá,mas com esse pedido que me fez, infelizmente, não poderei ajudar, se você sair pelos portões do complexo, eu nada mais poderei fazer.

— Mas eu preciso ver o meu pai — explico.

— Com o tempo, tenho certeza de que todas as coisas irão se
resolver, basta você ter calma, fé e tentar enxergar com os olhos da
alma, criança. Quando você fizer isso, tudo irá se resolver, eu
prometo.

Fala e se levanta em seguida, para me deixar sozinha em meu cativeiro.

— Se alimente, mais tarde eu venho buscar a bandeja, trouxe
algumas roupas para você também, não sabia o que gostava, então,preferi calças jeans e camiseta, se quiser outra coisa é só me falar —informa.

— Mas ele disse que se eu não descesse para almoçar com ele eu
não iria comer nada.

— Esqueça, criança. — Faz um gesto com a mão como se não
importasse o que eu disse — Ele é o Chefe da Máfia, mas não é um monstro, se você observar vai enxergar. — Fala e eu balanço a
cabeça descrente.

— É o que eu enxergo quando o olho.

— É o que você quer enxergar, anjo, é diferente. — Sorri, como se
estivesse certa do que acabara de me dizer. — Além disso, ninguém
que fica sob os meus cuidados vai morrer de fome, isso eu garanto.

Ângela sai, me dando muito o que pensar. Será que ela está certa?
Será que há outra possibilidade de eu alcançar a liberdade sem ter
que me arriscar fugindo?

Cedo aos impulsos do meu estomago e como todo o prato de
macarronada que ela me trouxe, eu realmente não dispenso qualquer comida.

Deitada na cama, penso nas minhas possibilidades de fuga. Mesmo tendo ouvido a senhora e seus conselhos ainda acho que essa é a minha melhor opção no momento.

Por isso tomo um banho, visto a roupa que ela me trouxe e volto a
elaborar um plano, talvez, escalar a janela não seja a melhor opção,
sentada na cama começo a considerar outra possibilidade.

AprisionadaPeloChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora