Capítulo 35

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“Por um instante eu hesitei, eu sabia que se eu conseguisse sair, eu alcançaria a minha liberdade, mas também era provável que eu jamais o visse novamente

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“Por um instante eu hesitei, eu sabia que se eu conseguisse sair, eu alcançaria a minha liberdade, mas também era provável que eu jamais o visse novamente.”

Passei toda a tarde considerando as minhas possibilidades, eu poderia permanecer aqui, mas viver numa incerteza não faz muito o meu estilo. Como eu poderia me contentar em dormir e acordar presa em uma torre como a Rapunzel?

Não. Definitivamente essa não seria Luiza Beviláqua. E por isso
tomei a decisão de realmente tentar fugir.

Ainda durante a tarde quando Ângela veio buscar a bandeja, senti como se a senhora pudesse me ler, ela sabia que eu não acataria os seus conselhos e tentaria fugir, mas ela não disse nada e nem me repreendeu.

Perguntou se eu precisava de algo, salientou a alimentação, era
como se ela estivesse cuidando de mim para que eu estivesse forte
na fuga, mesmo não aprovando minha atitude.

Eu neguei, além de realmente não estar com fome, não gostava de
estar mentindo para ela. Mesmo que de fato não fosse uma mentira, eu só queria a minha liberdade e esperava conseguir. Eu a agradec antes de sair, e ali eu estava agradecendo não apenas pela comida que me fornecia, mas por todo o cuidado e atenção que me dispensou enquanto eu estive nesta casa.

Durante a tarde, mapeei mentalmente todo o trajeto que percorri desde que entrei pelos portões do complexo.

Quanto ao percurso dentro da mansão seria mais fácil para mim, com todas as luzes acesas eu sabia exatamente por onde passei, me arrependi um pouco, por não ter descido para almoçar. Quem sabe eu conseguisse espiar algo do lado de fora? Mas já que eu não fui, tudo bem não adiantava ficar me lamentando.

Eu temia apenas a área externa, era um longo caminho a percorrer até os portões de entrada e no escuro eu não prestei muita atenção, a parte de dentro seria trabalhosa por causa das pessoas que transitavam, mas eu daria um jeito.

Durante a minha observação na janela, notei que sempre havia
homens armados caminhando pelos jardins, eu teria que dar um jeito de me esquivar deles também, mas eu estava confiante.

Então quando a escuridão da noite tomou o céu, eu sabia que havia chegado o momento, eu poderia ser confundida com um bandido e ser alvejada por um dos seguranças, mas eu confiava que o meu porte pequeno me ajudaria a esgueirar por entre os arbustos e colunas e auxiliasse na minha fuga.

Com o coração batendo forte no peito, abri lentamente a porta do
quarto, eu sabia que não estava trancada, pois em nenhuma das
vezes que Ângela esteve no quarto ouvi o barulho de chaves, nem
mesmo quando o demone esteve aqui.

Andei na pontas dos pés até chegar ao topo da escada, cogitei a possibilidade de tirar os tênis para fazer o mínimo de barulho possível, mas desisti quando considerei que não teria muito tempo para calçá-lo quando chegasse fora da mansão.

Com o máximo de cuidado observei todo o andar de baixo, pelo menos os espaços que eu conseguia ter a visão. Passo a passo comecei a descer os degraus.

Pelos cantos, me esgueirando e já sabendo qual caminho eu deveria
seguir, não demorei a chegar na imensa porta que me separava do
jardim.

Por um instante eu hesitei, eu sabia que se eu conseguisse sair, eu alcançaria a minha liberdade, mas também era provável que eu
jamais visse novamente o anjo/demônio, que tanto me salvou quanto me aprisionou, e eu, por mais que quisesse negar estava incomodada com esse pensamento.

Como seria não olhar mais naqueles olhos castanhos e
impenetráveis? Como seria não sentir mais meu coração acelerar
tanto de medo quanto de satisfação quando ele estava próximo de mim?

E também como seria não me sentir mais protegida por alguém? Fora desses muros, eu tinha que me virar para proteger a mim e ao meu pai, para nos alimentar e também para cuidar dele.

Desde que fui mantida prisioneira, eu tinha a estranha sensação de proteção. Eu me senti cuidada e protegida por Lucarelli, que todos os dias fornecia o alimento e que quando me deixou no cassino deixou claro que ninguém deveria me tocar, ou ele mataria. Senti-me cuidada
por Ângela, com suas palavras de conforto, comidas deliciosas e um
carinho que eu só senti vindo da minha mãe e do meu pai, e por mais estranho que parecesse eu me senti protegida pelo demone ou angelo, como eu também o via, o meu anjo salvador.

É como se essa sua face apenas eu pudesse enxergar, ainda que
escondida por diversas barreiras eu conseguia ver a compaixão e o
cuidado em seu olhar, assim como eu também vi o desespero por me
encontrar naquela situação na boate, mesmo que ele não quisesse demonstrar eu vi e senti.

Mas não, eu não podia me deixar levar por essas falsas sensações,
nada disso era real, foram apenas ilusões que eu criei. Com essa
certeza, rumei para a noite escura, o vento frio tomou a minha face, e eu quase sorri de satisfação, digo quase, porque uma pequena parte de mim queria ter ficado, mas eu segui em frente.

Vou me esgueirando por entre os arbustos e pilastras que passei toda a tarde tentando gravar a localização pela janela do quarto. Eu consegui avançar, entretanto uma voz grossa e grave soou atrás de mim, e eu soube que era o meu fim.

— O que pensa que está fazendo? Mãos na cabeça e ajoelha. — Era
uma ordem eu sabia, então fiz o que mandou.

Eu não podia ver o dono da voz, mas sabia que não era o demone e
nem o carrasco que me levava alimentos. Ele, por sinal, eu sabia
estar viajando por causa da conversa no cassino ontem à tarde.

Então sendo outro segurança, provavelmente, deve estar achando que eu estou invadindo a propriedade do seu senhor. E vai estourar meus miolos e lhe entregar em uma bandeja de presente como prêmio pelo seu serviço perfeito.

Será que iria adiantar rogar a Deus mais uma vez? Ultimamente, eu tenho recorrido tanto a ele já nem deve mais estar aguentando os meus lamentos, mas não custa tentar não é mesmo? Pensando
assim, peço a Deus que ele não me mate e ao homem que me
mantém cativa no chão peço clemencia.

Per favore, senhor, não me mate — ele para a minha frente. Eu já estou de joelhos como ele mandou e com as mãos para o alto em sinal de rendição, reconheço o homem que acompanhava o demone,quando ele me trouxe do cassino.

Ele não me responde, apenas tira um aparelho de celular do bolso e
disca para alguém, eu imagino quando leva o telefone ao ouvido.

— Chefe? — Meu coração quase para quando entendo o que ele fez,começo a gesticular desesperadamente para que não faça isso, mas nada que eu faça adianta e ele avisa o que eu acabo de fazer. —Encontrei a prisioneira tentando fugir. — Ele ouve algo que o demone
fala. — Sim, senhor, no jardim central, na frente da mansão. — Faz uma pausa — Eu o aguado.

— Ele vai me matar — falo quando ele encerra a chamada e mantem os olhos presos em mim, aponta uma pistola para a minha testa.

AprisionadaPeloChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora