Minhas pernas batiam violentamente num movimento constante: sobe, desce, sobe, desce... Minhas mãos se torciam uma contra a outra em meu colo, angustiada. Meus olhos perscrutavam ao meu redor, procurando por algo, sem nunca encontrar; tentando ver algo sem nada ver. O suor se acumulava na base do meu pescoço, escorrendo de minha testa e nuca. Arranho as palmas das mãos e finco minhas unhas na carne macia, tentando ignorar minha angústia.
Paredes brancas, vazias. Mortas. Apenas minha cadeira e uma mesa longa de madeira escura à minha frente haviam no estranho cômodo angustiante. Não havia janelas, apenas uma única porta cerrada. Olho na direção da mesma, mais uma vez. O que estava acontecendo? O que diabos era aquilo?
É apenas um sonho, repito a mim mesma pela milésima vez. Apenas um pesadelo. A qualquer momento você vai acordar.
Eu não tinha mais tanta certeza disso.
Aquela semana havia sido rápida. Como sempre eu acordava atrasada para o trabalho numa editora onde eu fazia as revisões dos livros já aprovados para serem produzidos. Não havia ligado a tv para verificar os noticiários. Não havia lido jornais. Se eu tivesse feito isso, provavelmente estaria informada do que acontecia a minha volta. Provavelmente teria entendido porque meus colegas se calavam tão rapidamente quando me viam. Provavelmente saberia que a Yusuf viagem a trabalho não havia se estendido por alguns dias, como ocorrido algumas vezes. Mas como sempre, eu era a desinformada, e só soube na manhã de sexta-feira, quando oficiais do FBI invadiram a minha casa e me arrastaram para sua base secreta onde acusavam Yusuf – meu Yusuf – de tentativa de atentado contra a nação dos Estados Unidos em nome de Alá.
Minhas pernas continuavam a bater, inquietas. Solto um gemido de angústia. Nada havia sido me dito, além de que queriam conversar comigo. Esclarecer algumas coisas banais, só isso. Claro, o FBI se daria ao trabalho de me tirar da minha casa e me trazer ao fim do mundo apenas para saber o que eu comia no café da manhã.
Com um misto de angústia e alívio, ouço a porta ao meu lado ser aberta e meus olhos são atraídos para lá. Imagino que eles trarão Yusuf para que converse comigo, mas eles não o fazem. Na verdade, apenas oficiais entram na sala. Uma mulher entre eles, que parecia ser a líder, mais dois oficiais que eram os mesmos que me trouxeram até aqui e outros que eu não fazia ideia de quem eram.
- Jade, certo? – questiona a mulher me olhando, séria – Eu sou a detetive Bronx. A trouxemos aqui porque queremos saber mais sobre seu marido, Yusuf. Por acaso você saberia onde ele poderia ter escondido três bombas nucleares? – eu fico aérea.
- Ahn, o quê? Bombas? Como assim bombas nucleares? - eu sorrio, incrédula, vendo o mal entendido ali – O que o Yusuf tem haver com bombas nucleares?
Um dos oficiais me olha como se estivesse vendo uma ameba, ao invés de uma pessoa.
- Olha Jade, eu sei que a ficha ainda não deve ter caído, mas seu marido é um terrorista. Ele escondeu três bombas em locais diferentes pelo país e estão programadas para explodirem hoje, ao meio dia, matando milhares de pessoas. Nós precisamos impedi-lo e... – neste momento, há uma batida na porta e um homem entra, branco, forte. Não parecia ser um dos federais.
- H quer vê-la – diz ele a mulher, que pede licença e sai da sala, me deixando sozinha com meus pensamentos.
Yusuf, terrorista?
Bombas?
Mas o que diabos estava acontecendo?!
A mulher volta para a sala e olha para dois dos oficiais, que rapidamente me erguem pelos cotovelos, me guiando para fora da sala.
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A Short Histories
FanfictionPequenas histórias (algumas nem tão pequenas assim) feitas por mim, mais no intuito de mantê-las em um local seguro e não perdê-las um dia.