Nanny (Michael Sheen)

70 6 6
                                    

- Você deve ser a S/N Miller, certo? – ela estende a mão com as unhas perfeitas para mim e eu a aperto com vergonha.

- Sim, sou eu.

- Eu sou Anna Lundberg. Chá? – questiona a mulher loira a minha frente. Começo a apertar os dedos, mania de quando eu ficava com vergonha.

- Não, obrigada – respondo e ela acena na direção do sofá.

- Pode se sentar – eu o faço depois que ela se senta no sofá a minha frente – Victoria Mayers me indicou você, disse que você é ótima. Já trabalhou para ela?

- Na verdade, é minha mãe que trabalha para ela, eu fiquei de babá algumas vezes quando a babá dela faltava, mas só isso.

- Entendi. Tem habilidades com crianças?

- Sim, tenho.

- Tudo bem. Está interessada no emprego?

- Claro – respondo sendo sincera. Era o máximo que eu conseguiria.

- Tudo bem. Pode começar agora?

- Claro.

- Venha comigo, Lyra está lá em cima, no quarto dela.

Sigo a mulher pela bela casa prestando atenção no caminho para não me perder. Subimos as escadas e ela para no corredor e começa a apontar as portas.

- Ali fica o banheiro e este é o quarto da Lyra – ela abre a porta, revelando um quarto rosa repleto de brinquedos em prateleiras e alguns no chão, onde uma garotinha loira de cabelos lisos como os da mãe brincava.

- Lyra, venha querida, quero que conheça alguém – a garotinha se levanta e vem até nós – Querida, esta é a S/N, ela vai tomar conta de você, certo? Diga oi para ela.

- Oi – diz a garotinha e eu me abaixo para tentar ficar da altura dela.

- Olá Lyra, quantos anos você tem? – ela forma o 4 com os dedos.

- Quato – responde ela e eu sorrio.

- Você já sabe os horários de chegada e de ir embora, mas com o meu trabalho sempre corrido, pode ser que em alguns dias você precise voltar para casa mais tarde, mas eu pagarei hora extra, tudo bem?

- Não, tudo bem, não me preocupo com essas coisas.

- Certo. Estarei lá embaixo caso precise de alguma coisa.

- Tudo bem.

Tiro minha pequena mochila das costas e coloco o mais próximo possível da porta, longe das coisas da criança, para que a mãe não ache ruim. Eu sabia como ricos – e no caso da Anna, milionários – reagiam a pessoas como eu. Achavam as piores coisas, a mais comum era que transmitíamos doenças, mas eu já nem ligava mais. No Brasil, o que mais tinha era preconceito, embora o Reino Unido não seja muito diferente.

A noite, eu estava colocando uma Lyra adormecida na cama quando a porta é aberta atrás de mim.

- É um milagre ela ter dormido cedo – Anna então me encara – Meu namorado chegou há pouco, venha jantar conosco.

- Não precisa – digo com vergonha e ela franze o rosto.

- Mas é claro que precisa! Você passou a tarde aqui, deve estar faminta!

- Não, eu trouxe comida de casa, eu posso comer em algum canto.

- Ah não, venha comer conosco! – ela agarra meu pulso e me puxa para fora do quarto, saio encarando os meus pés, com medo de tropeçar e cair e com vergonha, claro.

A Short HistoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora