Dos Oruguitas (Michael Sheen)

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               Eu estava no meu quarto sentada à mesinha do computador, trabalhando. Eu tinha um livro para terminar de revisar e aquilo estava tomando todo o meu tempo e paciência, já que a história não era o meu tipo, mas eu era obrigada a corrigir aquilo, já que eu era contratada pra isso.

- Oi querida – chama Michael me abraçando.

- Solta – digo mal-humorada e ele se afasta um pouco.

- Trabalho.

- Acho que isso é óbvio, não? – rebato ácida.

- Já vi que você não tá com paciência pra isso. Tudo certo para hoje à noite ainda? – questiona ele. Michael estava aqui em casa há um mês e não havíamos sequer passado um tempo juntos, meu trabalho consumindo todo o meu tempo, energia e paciência.

- Não sei – respondo grossa. – "A gente" junto? É sério? Onde esse animal estudou? – resmungo e arrumo o erro gritante. Vejo pelo espelho do quarto Michael suspirar, derrotado e sai do quarto.

Nós estávamos juntos há um ano e no começo, tudo era mil maravilhas, mas parecia que de uns meses pra cá eu sempre estava ocupada demais pra ele e furiosa demais, eu tentava parar com isso, tentava ter tempo e paciência, mas parecia ser impossível. E ele, o doce que era, ia aguentando as pontas de um relacionamento corrosivo por nós dois. Não que eu não o quisesse mais, mas parecia que toda vez que eu abria a boca era pra piorar a situação. Meu coração o queria, mas eu tinha que admitir: não mais como antes.

Passo o dia enfurnada no quarto, trabalhando. Lucy, a empregada, havia trago o almoço e lanche pra mim, que comia sem nem perceber. Eu não havia visto Michael o resto do dia, eu havia deixado o meu escritório para que ele trabalhasse pois tinha mais espaço, fora que estávamos em quartos separados, já que ele sempre tentava apaziguar minha raiva que constantemente explodia indo pra longe de mim.

- Você não vai, não é? – ouço a voz desapontada do Michael na porta do meu quarto, mas parecia que ele já sabia que aquilo ia acontecer. Eu o encaro assustada.

- Que horas são? – questiono e ele encara o relógio no pulso.

- Seis e quarenta e três.

- Desculpa Michael, não vai dar pra eu ir – Michael havia vindo exclusivamente a L.A. para uma premiação a qual ele havia sido indicado por seu mais novo filme que eu ainda não tinha tido tempo de ver e em seguida haveria um evento de caridade da ONU em parceria com a Unicef, da qual ele era um dos embaixadores e também iria. Michael suspira fundo, chateado.

- Não vai dar ou não quer?

- Como é? – eu giro a cadeira para encará-lo de frente. Ele respira fundo, cansado. Ele claramente já estava de saco cheio da nossa situação, já que ele estava tocando no assunto. Michael só participava de uma briga quando sabia que não tinha mais jeito de ignorar aquilo, embora ele lembrasse uma criança birrenta quando algo o incomodava com relação aos amigos (principalmente o David), comigo ele sempre segurava o máximo que conseguia.

- Olha S/N, eu amo você e achei que você sentia o mesmo.

- E eu sinto.

- Pelo visto não mais. Estamos há meses assim, você ignora minhas ligações até não poder mais, quando te mando mensagem você só responde o mínimo possível, foge como o diabo da cruz quando te convido a ir pra Port Talbot com a desculpa que está ocupada...

- E eu estou – ele ergue a mão.

- Eu ainda não terminei. E além de tudo isso, eu venho pra cá pra passar um tempo com você e o que você faz? Me joga num quarto separado do seu e a cada vez que eu abro a boca parece que você me odeia. Eu tento perguntar como foi seu dia, conversar com você e você é ignorante e fria e em alguns momentos cruel. Você desconta toda a sua raiva, todo o seu ódio em mim, eu não sou um saco de pancadas. Eu tenho sentimentos também.

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