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Maturidade tem mais a ver com o tipo de experiência que você teve na vida, do que com quantas velas você apagou — William Shakespeare

Ayleen

Meus pelos se arrepiam com a corrente de ar súbita. Será que é um mal presságio? Ajeito a alça do mochila no meu ombro direito e ergo a cabeça. Contemplo o enorme muro escuro que domina todo o quarteirão. Isso é maior do que eu imaginei.

Olhando mais atentamente, percebo listras douradas e finas na vertical. Pondero por um momento se é ouro de verdade e se for, como nenhum delinquente não tentou roubar?

Ah, eu estou na área nobre...

Noto o interfone dourado com apenas um botão solitário e discreto. Pressiono meu indicador sobre o botão e aguardo alguns segundos. Por que não tem ninguém aqui? Giro de um lado para o outro com a suspeita crepitando os meus sentidos.

— Nome — uma voz grave pede pelo interfone.

Uma simples palavra. Só isso.

Limpo a garganta e ajeito minha postura. — Ayleen Dutra — respondo de uma vez.

Aguardo uma resposta, mas ouço um estalo baixo, em seguida, o portão é aberto. Sem mais nenhuma instrução, caminho cautelosamente para dentro, olhando de um lado para o outro, e em cada passo que dou, me sinto mais fora do lugar.

Tudo é tão estupidamente grande que o meu campo de visão não consegue dar conta. Logo na entrada há uma enorme placa preta de lona com letras douradas cursivas dizendo "Leilão Beneficente, ajude um daddy; seja uma filha".

O quê?

— Não se preocupe, você só precisará acompanhá-los em um evento de escolha deles — uma mão toca em meu ombro e tira o meu foco da placa.

Tento formular o turbilhão de palavras que ameaça sair de minha boca. É inútil.

— Qualquer tipo de evento? E se eles quiserem algo muito surreal? — viro-me em direção a voz.

Uma mulher alta e esguia com um tablet em mãos me encara. Ela é linda. Do tipo que se vê por aí nas redes sociais: loira com o cabelo partido de lado com um certo volume, os lábios pintados de uma cor mais nude e olhos bem marcados.

Seu vestido branco contrasta com o som tom bronzeado, formando uma bela combinação. O decote em V só traz mais elegância à peça que desliza suavemente até seu salto. Automaticamente, comparo minha roupa simples, uma calça jeans e uma regata preta, com sua peça mais sofisticada.

Digamos que não me preocupo muito com a minha aparência. Só preciso ser prática e rápida no meu dia a dia. Além do mais, não sei me maquiar direito; seria uma perda de tempo de qualquer modo.

— Não podemos fiscalizar tudo — dá de ombros.

Basicamente, eu tenho que me virar se as coisas desandarem. Bom, eu vim por vontade própria.

A loira se aproxima e ergue o tablet, digitando alguma coisa. — Ayleen Dutra, certo?

— Sim — sucinto.

Ela acena e digita mais uma vez.

— 20 anos? — me olha de cima abaixo, mas não de um jeito pejorativo — Parece ser mais jovem. Enfim, vamos entrar porque você precisa se preparar. Suas informações estão corretas?

— Sim — preciso mostrar certeza mesmo que eu não tenha.

— Tudo bem — digita mais uma vez —, por favor, me acompanhe.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora