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Eu acho que vou sentir sua falta para sempre, como as estrelas sentem a falta do sol nos céus da manhã— Lana Del Rey, Summertime Sadness

Ayleen

Entro no quarto clinicamente estéril. As máquinas fazem o seu trabalho em manter minha mãe respirando. Como isso dói. Um tubo fino sai de seu nariz e um mais grosso de sua boca. Seus olhos cerrados, sua tez pálida — mais do que antes — e a cabeça enfaixada.

Me sinto morrer a cada segundo que me aproximo de sua maca. Não tem um sorriso de volta me esperando, não tem uma mão frágil se erguendo para o meu rosto. Nada. Apenas o silêncio fúnebre.

Meu pranto molha o meu rosto, mas não me importo. Nada importa no momento. Eu só queria minha mãe saudável de volta. Ela merecia ser feliz, muito feliz.

— Mãe, eu te amo. Você sabe disso, não sabe? — paro de falar porque minha garganta se fecha com o choro.

— Eu queria tanto uma vida diferente pra nós. Queria que os seus sonhos se realizassem... — um soluço irrompe do meu peito e preciso fazer outra pausa —... eu tentei te manter o mais confortável possível... eu juro que tentei...

Eu vou viver o resto da minha vida com esse constante vazio que nunca será preenchido. Se eu sobreviver.

— Eu não quero me despedir de você, mãe. Como eu posso? — seguro com firmeza a lateral da maca.

Fica cada vez mais insuportável, não consigo mais falar. Levanto minha mão e acaricio seu rosto magro. Passo um bom tempo assim, tocando-a, sentindo sua pele ainda quente.

Há uma batida na porta e logo ouço as dobradiças protestarem. Escuto passos e sinto alguém do meu lado. Não me viro, não preciso. Nada faz muito sentido no momento.

— Ayleen, não é o melhor momento, mas você terá que fazer uma escolha — a voz do médico é pesarosa.

Não... não quero escolher nada...

Meu silêncio é a única resposta que ele tem.

— Pense no que é melhor pra sua mãe — toca no meu ombro e se afasta. Ouço a porta batendo suavemente quando ele sai do quarto.

Minha única reação é chorar ainda mais. Sinto que vou chorar pra sempre.

— Mãe — engulo minhas lágrimas — o que eu vou fazer agora?

Victor

Assim que o elevador se abre, vejo um médico saindo da segunda porta do lado direito do longo corredor. Sua expressão não é uma das melhores.

— Você é o médico da mãe da Ayleen? — indago.

Ele não estava esperando pela pergunta, suas sobrancelhas se elevam quase tocando em seu coro cabeludo.

— Sr. Agostini — me cumprimenta —, sim, sou eu mesmo. Em que posso ajudar?

— Gostaria de saber os detalhes do caso e quais são as medidas a serem tomadas — minha pergunta não é estranha, afinal sou dono do lugar; e com isso, me interessa saber o andamento das coisas.

— Claro, senhor. Veja, a situação é muito delicada. Ayleen é uma boa menina, mas só tem a mãe. Cristina foi diagnosticada com um tumor no sistema nervoso central. Infelizmente, o seu quadro só se agravou com o passar do tempo. Ontem ela sofreu várias convulsões e precisamos entubá-la. Depois constatamos que ela teve uma morte cerebral. Não há o que fazer.

Há quanto tempo essa menina vem carregando tudo isso sozinha?

— E agora? — cruzo os braços.

Ele suspira — Agora Ayleen precisa decidir se vai ou não manter os aparelhos ligados. Não é uma decisão fácil. Me preocupo muito com ela. Fazia tudo pela mãe, só tinha a mãe. Não posso nem imaginar o que tá sentido agora.

Eu não sei quem é essa garota, mas o seu sofrimento me incomoda.

— Se ela decidir desligar... como vai ser?

— Primeiro ela deverá assinar um termo de responsabilidade, após isso, o corpo será encaminhado para o IML onde ocorrerá a liberação para o enterro. A partir daí, Ayleen cuidará do resto por conta própria.

Com todo o sofrimento, ela ainda terá que resolver essa parte pesada?

— Faremos o seguinte, me deixe informado de sua decisão. Vou arcar com todas as despesas necessárias, além disso, quero que reembolse todo o valor que ela gastou. Melhor, deixa que eu resolvo essa parte. Tem a conta dela nos registros?

— Mas será um grande desfalque pra clínica...

— Então pagarei do meu próprio bolso. Não se preocupe com esse detalhe — olho significativamente para ele.

— Tudo bem. Vou providenciar a conta e te enviarei os detalhes. Mas, se não for rude de minha parte, como o sr. a conheceu? Vocês não parecem frequentar os mesmos lugares.

É que ela estava sendo leiloada e decidi fazer uma oferta. Nada demais, muito comum de acontecer, não é mesmo?

— Nos conhecemos por acaso — não dou continuidade.

O médico acena e entende o recado.

— Bom, eu preciso ir. Outros pacientes me aguardam — ele se afasta.

— Ah — chamo sua atenção —, não conte nossa conversa pra ninguém, muito menos pra ela — deixo bem claro.

Ele volta-se para mim e anui. — Como o senhor desejar — prossegue em seu caminho.

Com o assunto encerrado, dirijo-me até o quarto de onde o médico saiu. Me aproximo da porta, que tem uma pequena janela de vidro; me dando a visão do quarto, diretamente para a maca, em específico.

Outra vez, sou tomado por uma sensação estranha ao ver Ayleen debruçada sobre o corpo inerte da mãe, chorando copiosamente. Sua dor é palpável e profunda.

Algo estranho parece quebrar no meu peito, um sentimento de impotência e incompetência se instaura em mim. O que vai ser dessa menina agora?

Por que eu tô me preocupando com isso?

É melhor eu ir e deixar que ela tenha o seu momento privado. Ainda mais quando me pediu para não entrar. Se ela soubesse que o lugar é meu...

Tenho certeza de que ela não voltará para casa hoje. Sua mente deve estar muito confusa.

Me afasto da porta e ando em direção ao elevador. Meu celular vibra no bolso da calça, pego o aparelho e vejo o e-mail com a conta dela. Foi mais rápido do que imaginei.

 Foi mais rápido do que imaginei

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Meu coração tá partido 💔

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