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E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz — Vinicius de Moraes, Ausência

Victor

— Você não tem aula hoje, não? — já são quase 11 horas da manhã. Sim, a pergunta foi idiota.

Estamos na banheira da minha suíte. Ayleen acomodou-se entre minhas pernas com suas costas contra o meu peito. Ela deu um nó no cabelo, deixando-o em um coque no topo de sua cabeça.

No momento, descansamos depois de toda atividade física que tivemos. Meus braços estão escorados em cada lado da banheira.

— Não. O professor cancelou. O universo conspirando a favor de nós — ela escora a cabeça no meu ombro e a água se move por causa de sua ação.

Eu deveria começar a ser mais devoto. Deus tá tendo muita misericórdia de mim.

Tiro as mãos das laterais da banheira e aliso os seus braços. Logo que entramos, a água estava aquecida, mas agora sinto os seus braços gelados. Tá na hora de sair daqui.

— Eu volto a trabalhar hoje — revelo subitamente.

A morena se desvencilha se move ficando de frente para mim. Seus olhos estão com um misto de preocupação e confusão.

— Achei que você não ia mais trabalhar na empresa — seu tom não é acusativo.

Levo a mão à testa e esfrego o local. Não preciso de uma dor de cabeça agora, cérebro!

— Magda me ligou. Ela basicamente disse pra eu não abaixar a cabeça. A empresa é minha, majoritariamente. E, no fundo, eu sei que não quero entregar isso tão facilmente nas mãos de Josué. Sei que disse o contrário disso um mês atrás, mas... — a frase fica incompleta.

Ayleen pega a mão que está em minha testa e a envolve nas suas.

— Você não tem que desistir de suas conquistas por causa dos seus pais. Ou por minha causa. Eu não quero isso; nunca quis. Então, use toda essa confiança que eu sei que você tem e domine o lugar.

Meu peito arde de orgulho por estar com a pessoa certa. Por estar com alguém que me apoie; bem diferente dos "apoios" que tive durante minha vida.

— Às vezes me pergunto se você é real. Talvez eu esteja em coma e tudo isso faça parte de um sonho — minha mente voa longe. Tô virando um velho gaga.

Ayleen solta uma risada frouxa e nega com a cabeça.

— Sou bem real — belisca o dorso da minha mão.

— Ei! Você tá muito agressiva hoje — o sorriso ainda brinca nos seus lábios e ela alisa a minha pele molestada.

— Mas é sério — seu sorriso vai embora —, pegue tudo o que é seu. Contudo, precisa tomar cuidado — me lança um olhar intenso. — Não confio no seu pai.

— Nem eu — o clima fica pesado.

— Acho melhor sairmos antes que nos tornemos duas ameixas secas — minha garota ameniza a situação.

— Não vai me querer quando eu tiver velho e enrugado? — brinco.

Ela arqueia uma sobrancelha e me encara com deboche.

— Você já tá quase na terceira idade — atira.

— Ah, é? — levo minhas mãos para sua cintura e faço cosquinhas em suas costelas — Acha que sou muito velho pra você?

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora