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A vida é feita de surpresas, mas elas podem não ser tão agradáveis — Allimidul Soehlub

Victor

O silêncio predomina o ambiente a partir do momento em que profiro as palavras. Todos olham de mim para Josué como se esperassem um duelo. A confiança não sai de sua feição, ele ainda está muito certo de si.

Mas por quanto tempo?

— Do que tá falando? — sua pergunta vem em forma de zombaria.

— Do que eu tô falando? Vejamos — levo a mão aos meus lábios, em uma pose pensativa —, as ações são passadas pra os próximos presidentes, ou seja, eu tenho os seus 85%, somados aos 10% que herdei do meu avô...

Josué me encara, mas leva um tempo para assimilar o que acabei de dizer.

— Desde quando você tem as ações do meu pai? Ele nunca quis dar a ninguém... como?

Eu poderia prolongar essa reunião e ficar debatendo esse assunto, mas minha paciência já chegou ao limite há muito tempo.

— Talvez ele tenha visto algo em mim que faltou em você. De qualquer forma, você não tem nenhuma autoridade aqui — fito-o.

— Não tão rápido! Trouxe os meus advogados. Acha mesmo que vou somente confiar em suas palavras? Por favor!

— E o que você quer? Os documentos comprovando que falo a verdade? — tamborilo os dedos sobre a mesa e estreito os meus olhos.

— É claro, se for preciso, até te interdito. Você não tá tão lúcido assim — insiste na mesma tecla.

Até quando ele vai usar a carta de "falta de sanidade mental"? O único louco que vejo aqui tá bem na minha frente.

— Magda, por favor, traga os papéis — peço à minha secretária que tem os olhos atentos a tudo o que acontece.

— Já estão aqui — estica a mão e os entrega para mim.

Abro um sorriso de agradecimento e seguro-os entre os dedos.

— Aqui. Seus advogados podem verificar.

Faço questão de me levantar e entregar em mãos. Josué me fuzila enraivecido e não faz a mínima questão de disfarçar.

— Veremos, Victor, veremos.

— Eu sei que vão — dou as costas e volto para o meu lugar.

Os advogados começam a checar cada palavra contida no documento. Cochicham entre si e trocam leves acenos de cabeça, ocasionalmente.

Puxam Josué para um canto e sussurram algo. Aproveito o tempo para analisar cada rosto ali presente. É quase como se houvesse uma divisão. Os que apoiam e babam o ovo de Josué, têm as feições fechadas e ansiosas.

Já os que me querem no comando e concordam com os meus métodos, demonstram um semblante calmo, sem qualquer alteração.

Depois de terminarem de analisar o documento, os três homens voltam para suas posições e não demonstram boas feições.

— Como ousa fazer isso nas minhas costas? —Josué me encara com todo o ódio do mundo.

— Nas suas costas? — gargalho — Nunca fiz nada escondido de ninguém. Acha que tenho tempo pra ficar de segredinhos pelos cantos?

— Pra eu não ter conhecimento disso, sim — ele segura os papéis com tanta força que amassa as folhas.

Ele tá quase espumando.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora