Nunca reveles com facilidade o teu pensamento, nem executes nunca o que bem não tenhas ponderado — William Shakespeare
Ayleen
O dia já amanheceu e eu me sinto ainda mais cansada do que quando fui dormir. Boa parte da madrugada, passei em claro. Ele realmente não quer nada? Por incrível que pareça, isso me assusta.
Ninguém tem o coração tão bom assim. Não pessoas tão ricas quanto ele. Vejo o meu celular se acender e, consequentemente, despertar tão alto fazendo com que o som ecoa pelas paredes do quarto uma vez silencioso.
Ele se ele me ligar dizendo que mudou de ideia?
Sento-me na beirada da cama de solteiro e observo a paisagem à minha frente: o muro relativamente médio da casa abandonada aqui do lado. Meu quarto dá para os fundos da grande casa vazia.
Meu coração gela por uns 5 segundos. Um par de mãos agarram ao muro, uma cabeça aparece e olhos curiosos atiram diretamente para a minha janela. Meu corpo congela no lugar. Por um momento, esqueço como se respira.
Da distância em que estou, não é possível saber se é um homem ou uma mulher. A questão é: o que querem? Pretendem invadir minha casa também?
Tão rápido quanto aparece, a pessoa em questão para de vigiar minha casa. Solto a respiração fechando os olhos com força por uma fração de segundos. É, tenho problemas maiores do que me preocupar com um rico fazendo 'riquices'.
Me levanto cautelosamente e vou atrás de uma roupa confortável para passar o dia com minha mãe, lá na clínica. Escolho um short de moletom preto e mais largo, e uma regata branca. Pego minhas peças íntimas e vou tomar um banho.
Passo pelo curto corredor do meu quarto até o banheiro, e vejo uma foto de quando era adolescente, um pouco antes de descobrirmos a doença, com minha mãe do meu lado. Seu sorriso é brilhante e caloroso. O rosto saudável e o longo cabelo loiro.
A única coisa que tenho semelhante à minha mãe, é o sorriso. Ela é branca e loira com os olhos castanhos claros e o cabelo bem liso. Eu sou morena, com o cabelo ondulado e os olhos castanhos escuros, a cópia fiel do meu pai.
— Você vai melhorar, mãe — converso com a foto.
Elas já devem estar cansadas de me ouvir repetindo esta frase.
Sacudo a cabeça e, enfim, vou para o banheiro. Deixo minha roupa em cima da pia e me fito no espelho. Apesar de todo o esforço, meus olhos ainda estão manchados com a maquiagem e meu cabelo parece estar em todas as direções possíveis.
Tiro minha roupa e me enfio no box, deixando a água cair como uma cascata sobre o meu cabelo. Fico assim quieta por um bom tempo, me permitindo uma leve calmaria, aproveitando um momento só meu.
Não vai tirar a máscara?
Olhos azuis invadem a escuridão por trás dos meus pensamentos vazios. Não pedem licença. Só se intrometem num lugar inadequado, sem nenhuma explicação plausível.
Abro os meus olhos em um rompante, sem entender o porquê da lembrança.
Ser lindo não é tudo. Sabia, cérebro?
A máscara era minha única proteção, a única coisa que podia me esconder, mesmo que brevemente, dos seus olhos questionadores. Ele não precisa me conhecer; não precisa saber quem sou.
Foi um erro ter o deixado me trazer. Mas, por favor! Nunca que ele voltaria aqui. Qual o intuito de visitar um bairro de classe média? Aposto que mora numa mansão com trocentos empregados dos quais nem o nome deve saber!
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Declínio
Romance⚠️NÃO RECOMENDADO PARA MENORES 🔞⚠️ O QUE VOCÊ FARIA POR AMOR? Alçada pelo desespero, a jovem Ayleen se vê nas mãos do destino. Sua vida se resume em cuidar de sua mãe doente e trabalhar incansavelmente em tudo o que for possível, ela se encontra, d...