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Talvez não exista uma frase certa para isso que estou sentindo — Allimidul Seohlub

Ayleen

Têm umas pessoas que são desnecessárias para o mundo. Denise Agostini se enquadra perfeitamente nessa categoria. Se existe um limite para ser sem noção, essa mulher já esgotou todos os níveis possíveis.

Eu me pergunto o que sobraria se toda a sua riqueza fosse retirada? Como seria sua reação perante o mundo real e não essa fantasia rica que criou em sua mente doente?

A vida é apenas um jogo pra pessoas como ela?

Duvido que tenha qualquer grama de humanidade, empatia ou qualquer coisa próxima de algum sentimento ao próximo.

Naquele peito bate um coração oco, bombeia um sangue frio, quase como gelo. Qualquer vestígio de calor se congela com a extensão de sua frieza.

E você, Ayleen? Por quanto tempo vai chorar? Por quanto tempo vai se esconder? Até quando vai permitir ter sua felicidade ditada por terceiros?

Quando vai ter coragem de se erguer? Quando vai ser livre de verdade? Vai ficar presa às palavras mal-entendidas?

Vai continuar no chão depois de uma rasteira ou terá coragem de se levantar?

Encaro o meu reflexo no espelho. Não me reconheço.

Você precisa lutar por você. Garota, ninguém pode mudar o seu mundo por você. Acorda. Reage. Viva. Lute. Grite, se for preciso.

Mas faça alguma coisa.

Sua cama não é o seu mundo. Sua depressão não te define. Você é mais do que isso. Você pode muito mais do que isso.

Só percebo que estou chorando quando sinto a umidade sobre os meus lábios. São tantos pensamentos e contradições.

Um lado da minha mente me grita com tanta intensidade: para de sofrer! Do outro, só escuto: deita, chora; a vida é isso.

Deu pra ver qual é o lado que tô ouvindo.

— Senhorita? — Oliveira me chama quando não prossigo, empacando no meio do caminho.

Acabei de ver alguém muito parecido com o Victor. E simplesmente estanquei no lugar. O que diz muito sobre a minha saúde mental. Meu sangue gelou, minhas mãos ficaram frias e tudo pareceu parar ao meu redor.

No final, não era ele. Mas o impacto foi tão forte que eu nem sei o que aconteceria se fosse o Victor de verdade.

Eu provavelmente congelaria no lugar, como agora.

Sinto saudade.

Estou em um nível que já posso identificar o que é sentir falta e o que é sentir saudade. O sentimento de falta é algo tão complexo e dolorido, significa tudo o que eu perdi e nunca mais vou ter. Não vou poder tocar, sentir, ouvir... sempre vai me deixar aquele vazio, aquela falta.

Já a saudade, é algo provável e palpável. Dois corpos distantes que podem se encontrar novamente. Nem sempre a saudade dói. Mas a minha tá. A saudade traz antecipação e ansiedade. A saudade te faz cometer loucuras, estúpidas escolhas.

A falta sempre traz dor. Sempre. Não tem um lado bom em sentir falta.

Eu sinto falta da minha mãe.

Eu sinto saudade do Victor.

— Desculpa — volto a andar, sem me enganar dessa vez.

Oliveira e Souza prosseguem e fazem a inspeção de rotina na editora. Quando tudo está liberado, permitem a minha entrada.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora