⚭73

8K 797 113
                                    

Estive buscando um caminho para seguir novamente, me leve de volta para a noite em que nos conhecemos— Lord Huron, The Night We Met

Ayleen

Só pode ser brincadeira.

É o primeiro pensamento que tenho assim que o motorista contratado pela editora estaciona na calçada.

O mesmo muro escuro que domina todo o quarteirão... de todos os lugares do mundo, o evento tinha que ser organizado exatamente nesse cerimonial?

— Não vai sair do carro, moça? — O motorista me encara através do retrovisor com uma expressão confusa.

Eu não imaginei que voltaria aqui algum dia da minha vida. Para ser mais exata, eu esperava não ter que voltar aqui nunca mais.

Como eu não notei antes? Por que não fui pesquisar o endereço?

De todo o jeito, não poderia inventar uma desculpa para não estar presente. Amélia ficaria mais desapontada comigo. Outra vez.

Inspiro o ar, ajeito a postura e crio coragem para sair do carro.

— Claro — respondo depois de alguns segundos.

Abro a porta e logo uma mão vem em minha direção. Souza está com um rosto sério e aguarda a minha resposta à sua ação. Ele e Oliveira vieram em outro carro, me permitindo um momento de folga.

Eu ainda não sei por que os seguranças do Victor estão comigo.

Aceito a ajuda e logo estou na calçada. Há vários jornalistas do lado de fora; observo que o caminho foi organizado por pedestais separadores. Um burburinho começa assim que me veem.

— Não é a namorada do Victor Agostini?

— Por que não chegaram juntos?

Câmeras são apontadas em minha direção, mas Oliveira intercepta ao meu favor.

— O senhor Agostini não gosta que especulem sobre sua vida privada. Ninguém tem permissão de expor ele ou sua namorada. Se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de tomar qualquer atitude.

Diante sua fala autoritária e efetiva, o fotografo desiste de sua ideia. Aliviada, seguimos para dentro do cerimonial. Sem mais interrupções.

Namorada...palavra engraçada.

A cada passo que dou, um calafrio se apodera de mim. Tudo é igual. Um ano e meio se passaram e eu não vejo a menor diferença.

Lembrar do que me trouxe aqui, naquela época, me traz náuseas. Paro de caminhar e prendo a respiração.

Tudo bem, Ayleen, estamos superando isso.

— Tudo bem, senhorita? — Souza questiona com o seu tom sério.

Libero o ar e ajeito os ombros.

— Sim, está tudo bem.

Prosseguimos em silêncio depois disso, somente ouvindo os nossos passos.

Será que o Victor já chegou?

É impossível controlar os meus pensamentos ansiosos. Eu sinceramente não sei o que esperar.

— Que bom que você chegou! — Amélia está no grande salão de entrada.

O lugar está com algumas cadeiras enfileiradas e uma mesa no centro do ambiente. Sobre ela, uma pilha de livros do autor homenageado.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora