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O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo, acha a razão de ser, já dividido — Carlos Drummond de Andrade, Amor

Victor

— Não acho que seja uma boa ideia. Não quero misturar as coisas — descarto a ideia.

Magda estala a língua. Viro-me para ela e vejo que o seu cenho está franzido.

— Não vai ser misturado. Ela ficará do seu lado, sorrirá quando for preciso; acenará se muito. Não precisará sequer falar. Não tem motivo pra drama ou contradição.

Um robô.

Vendo a minha resistência à ideia, minha secretária propõe algo.

— Se a garota mostrar dificuldade, é só você oferecer mais dinheiro. Tudo tem o seu preço. Tenho certeza de que com ela não será diferente. As pessoas são gananciosas. Apesar de você não precisar chegar a esse ponto.

No mundo em que vivo, esta sentença tem verdade própria. Todo homem tem o seu preço, mas não sei se funciona tão bem para a realidade dela. Acredito que a menina tenha alguma dignidade.

Fuzilo-a abertamente.

— Eu já sei qual fama tenho. Não preciso ser lembrado a cada segundo — retruco.

— É você quem tá colocando empecilhos em uma coisa muito simples. De qualquer modo, tenho mais o que fazer. Só pense no que te disse. Afinal, você não tá pedindo nada demais. Só tá resgatando o seu prêmio — arrasta sua cadeira para trás e sai da sala. Ouço os cliques dos seus saltos a acompanhando.

Não estou colocando empecilhos. Na verdade, é algo simples. Fugir da minha mãe casamenteira. E tem mais, minha mãe julga com muita facilidade. Seus altos padrões devem ser atendidos.

Deus a livre de seu filho se interessar por alguém que seja de uma "casta inferior". Palavras dela. Ela é uma ótima mãe e muito agradável. Mas só com os seus iguais. Nisto, meu pai e ela se completam.

Por isso, não vou atrás de Ayleen. Não só por isso. Ela é só uma pobre coitada que teve a sorte de receber a minha ajuda. Não preciso perder meu tempo pensando sobre isso. De certa forma, mesmo que em um pequeno vislumbre, vi uma fragilidade nos olhos castanhos.

Denise a esmagaria com o impacto de suas perguntas evasivas.

Apesar da afirmação, ainda perco alguns bons segundos sozinho dentro daquela sala de reuniões.

Estou finalizando um e-mail com uma empresa internacional de exportações que mostrou interesse numa futura parceria com uma de nossas empresas. Se tudo ocorrer da melhor maneira, quem sabe poderemos expandir para fora do país.

Assim que clico em "enviar", uma batida soa à porta.

— Entre — respondo sem levantar os meus olhos da tela.

— E aí, Victor? Como foi? — Ergo meus olhos ao ouvir a voz e vejo Geraldo com um sorriso malicioso nos lábios finos.

Sei muito bem do que ele está falando, porém, prefiro não dar corda.

— Creio que só falta a sua assinatura e tudo estará em ordem — tento manter a conversa no nível profissional.

A risada do homem ecoa pelas paredes e parece voltar diretamente em meus tímpanos com muita amplitude. Que cara escandaloso.

— Não tô falando disto. Me refiro a bocetinha que você comeu — a porta do meu escritório está aberta, o sujeito não fez questão de fechar. Por isso, uma funcionária nova acaba escutando a última frase e faz uma cara de puro nojo.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora