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Suavemente, se equilibrando entre mil sentimentos, o malabarista das emoções tenta me manter de pé — Allimudul Seohlub

Ayleen

Victor:

Linda,

Ocorreu um problema com uma de nossas filiais.

Eu não queria dizer por telefone, muito menos por mensagem.

Mas vou precisar viajar por uns dias pra resolver a questão pessoalmente.

Na verdade, já tô dentro do avião. Ainda não sei quando vou voltar.

Mas espero não demorar muito.

(Já sinto sua falta)

Quase no fim da aula, meu celular vibrou sobre a mesa com esta sucessão de mensagens. Eu fiquei completamente desapontada. Mas do que eu gostaria de admitir. A sensação de abandono me persegue durante toda a manhã.

— Tudo bem? — Lídia me cutuca com o seu cotovelo durante o almoço.

— O quê? — levanto os olhos do celular e miro o seu rosto.

— Ela perguntou se tá tudo bem —Pablo reforça a pergunta.

Para falar a verdade, quando dei por mim, já estava no restaurante do campus com os dois. Não sei se somos amigos, no entanto, a dupla faz questão de me arrastar junto. Se eu não tivesse com o humor tão azedo, poderia estar curtindo mais a presença dos dois.

— Sim — afirmo monossilabicamente.

Volto a focar no telefone e mando mensagens para ele, só que o maldito reloginho fica zombando de mim. Ele tá no meio do mato pra não ter nenhum sinal?

— Não é o que parece. Do jeito que tá encarando este telefone aí — Pablo aponta o aparelho sendo estrangulado em minhas mãos —, tem algum B.O. envolvido.

Paro de apertar o celular e largo-o sobre a mesa. Lídia está sentada do meu lado e Pablo de frente para mim. Solto um suspiro e nem sei muito bem o que falar.

Ele te usou e te descartou. Você foi só mais uma na listinha infinita. Meu subconsciente tira sarro de mim.

Sinto uma pontada no peito, como se algo tivesse rasgado o meu coração. Levo minha mão ao local em uma tentativa sem sucesso de aliviar a dor psicossomática.

— Eu... eu — as palavras não saem.

— Mulher, suspense não combina comigo! Manda de uma vez — Lídia larga o garfo sobre o prato com um leve tilintar.

— Lídia, você precisa deixar as pessoas terem o tempo delas! — Pablo a censura.

Lídia estala a língua como uma forma de se protestar contra ele.

— Gente, eu não sei se posso confiar em vocês — olho de um para o outro —, mas não tenho mais ninguém pra conversar.

— É claro que pode! — Pablo segura as minhas mãos juntas — Somos as melhores pessoas dessa universidade.

Ele sorri e, por incrível que pareça, sinto verdade por trás de seus dentes brilhantes.

Inspiro e expiro começando a falar. — Eu fiquei com o Victor pela primeira vez — sinto o meu rosto esquentar.

— Tinha que ser doida pra não ficar com aquele homem — Lídia dá de ombros.

É um senso comum.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora