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Teu sorriso é uma aurora que o horizonte enrubesceu — Castro Alves

Victor

Tudo foi planejado. Enquanto Ayleen corria de uma lado a outro durante o evento, reservei uma pousada. Sim, foi mais um dos meus atos impulsivos. Mas eu não quero nenhum tipo de interferência.

Quero falar tudo o que preciso com a tranquilidade de não receber uma visita inconveniente. Foi um tiro no escuro porque ela poderia muito bem não querer estar aqui comigo. Só fui pensar nisso depois.

No fim, estamos aqui. O primeiro passo deu certo.

Ayleen olha a recepção com bastante curiosidade e eu só consigo olhar para ela. Desviando a minha visão do meu foco, caminho até a recepcionista, que tem um sorriso amistoso.

— Bem-vindos à pousada Monte Verde. O senhor deve ser o Victor Agostini. O melhor chalé tá separado para o senhor e sua acompanhante. Precisam de alguém para carregar as malas?

— Nós não temos malas — não pensei em todos os detalhes.

— Tudo bem. Aguarde só um momento. O gerente irá levá-los até lá — após nos comunicar, retira o telefone do gancho e troca poucas palavras com a pessoa do outro lado. — Ele já tá chegando.

Poucos minutos depois, um homem alto e negro com os cabelo em um corte baixo, vestindo um terno azul marinho, entra na recepção com um largo sorriso nos lábios.

— Senhor Agostini! Eu sou o Jorge. É um prazer enorme recebê-lo em nossas acomodações. Vamos, vamos — aponta para a porta lateral.

— Ayleen — chamo o seu nome. Ela ainda está um pouco dispersa. Porém, vem para o meu lado e, juntos, seguimos Jorge.

O trajeto só não é silencioso por causa dele. Jorge faz questão de pontuar cada qualidade dos seus chalés. O que absorvo de tudo é que eles não ficam colocados uns aos outros para garantir a privacidade dos hospedes.

— Bom, chegamos. Sintam-se à vontade; o serviço de quarto funciona a qualquer momento — diz depois de nos mostrar cada canto do lugar.

Observo o designer rústico. O teto de madeira assim como o assoalho. As portas de vidro e grandes janelas. Também há uma varanda com poltronas de aparência confortável.

Lembrando de tudo o que ele falou, temos um frigobar, lareira à lenha, ambiente climatizado e uma banheira tipo ofurô. Uma saleta para refeições e o quarto. Acho que fiz uma boa escolha.

Quando estamos sozinhos, Ayleen senta-se em um dos sofás da saleta e seu semblante demonstra todo o seu cansaço.

— Quer ir tomar banho? — imagino que o que mais deseja é descansar. Mas quero ir dormir com tudo resolvido.

— Sim, mas não tenho nada pra vestir — dá de ombros.

— Vou dar um jeito nisso, pode ir.

Ela estreita os olhos, no entanto, não debate. Se levanta e segue em direção ao quarto.

Procuro o telefone e acho o aparelho sem fio para acionar o serviço de quarto.

— Boa noite, como posso ajudá-lo? — uma voz feminina pede do outro lado.

— Eu preciso de roupas femininas e masculinas.

— Compreendo. Temos apenas roupas da loja de lembranças: calças de moletom e blusas de algodão com o logotipo da pousada.

É melhor do que nada.

— Tudo bem. Então não tem peças íntimas?

— Lamento, senhor.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora