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Eu posso sentir o gosto da vida se esvaindo de mim — Allimidul Seohlub

Ayleen

Cada segundo parece ser o último. A arma apontada para mim, o olhar sombrio e alucinado da mãe do homem que eu amo. Frases desconexas. Vida esgotada. Nada faz muito sentido. Se hoje for o meu último dia, não vou lamentar.

Eu pude me redimir com o Victor, pude dizer que o amo mais uma vez... pude sentir o seu corpo no meu mais uma vez.

Todos temos um prazo de validade nesse mundo. Talvez o meu tenha expirado hoje. Porém, é tristemente assustador ter uma arma apontada para você por uma pessoa que deveria ao menos tentar conviver com a sua existência.

— Sabe, Ayleen — Denise me encara com um semblante pensativo —, a culpa de tudo isso é sua.

— Por quê? — eu realmente quero entendê-la.

Eu não quero morrer.

— Você nunca deveria ter se aproximado do meu filho. Victor é só meu. Não posso dividi-lo com mais ninguém.

— Isso é doentio. Você é doentia — eu não deveria abusar da sorte.

— Eu tinha planejado tudo direitinho pra vida dele. Ele iria casar com uma boa moça, me daria netos lindos e fim. Tudo perfeito. Mas você tinha que aparecer e estragar tudo?

A mulher solta uma risada sinistra e balança a arma de um lado para o outro.

Engulo em seco e não respondo nada. Denise, porém, continua.

— Eu nunca consegui engravidar de novo. Josué era um inútil. Precisei resolver por conta própria. Mas o infeliz tinha que descobrir isso logo hoje?

— O que tá tentando dizer?

Ela bufa. — Por favor, sei que você entendeu. Victor não é filho do Josué. Esse era o meu segredo. Eu precisei proteger o meu filho daquele idiota. Aquele homem me traia com a minha própria irmã — solta uma gargalhada.

Quanto mais ela fala, mais delirante parece.

— Na verdade, eu roubei Josué do seu grande amor. Eu não fui a sua primeira escolha. Claro que não! Quem sou eu perto da maravilhosa Elaine. Foi muito fácil destruir aquele amor ridículo dos dois. Algumas fotos e boom... o amor acabou.

— Você é cruel — digo, enojada.

— Cruel, não. Inteligente. Josué era rico. Sabe o que mais me irrita? Elaine tinha essa sua personalidade de coitadinha. Ficou tão abalada que nem quis mais falar com o Josué. Achou que ele tinha um caso com nós duas ao mesmo tempo.

— O que você fez? — meu peito se aperta.

— Coloquei um remedinho na bebida dele enquanto foi visitar nossa casa. Elaine ainda não tinha chegado. Ele apagou. Tirei fotos de nós dois juntos e fiz aquela cena todo pros nossos pais e pra ela. Arranjei um teste de gravidez e consegui um casamento. Josué nunca tinha tocado um dedo em mim. Mas eu disse que ele estava bêbado e me coagiu a ficar com ele.

— Por que você tem prazer na tristeza dos outros?

Ela me encara e faz uma expressão assustadora.

— Calada! Eu só me importo com a minha felicidade. Elaine foi embora do país e eu tive a minha chance. Ninguém sabia de nada disso. Até Josué mexer nas minhas coisas e descobrir tudo. Ele veio me acusar e jogar na minha cara que o filho não era dele; que tudo fazia sentido. Não tive outra alternativa. Matei. 5 tiros. Ele nem sabia que eu tinha uma arma. Agora já foi. Só preciso me livrar de você, não gosto de nenhuma sujeira no meu caminho.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora