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Mas você combina mais comigo do que meu suéter favorito — Lana Del Rey, Blue Jeans

Ayleen

Seria mentira se eu dissesse que a proposta de estágio não está constantemente rondando por minha mente. Pela primeira vez, após muito tempo, sou capaz de escolher algo que realmente quero ou não fazer.

Parando de enrolar e me levantando da cama, porque o despertador já tocou há um tempinho, pego a roupa que deixei separada desde ontem. Olho rapidamente pela janela e, depois de tanto tempo, sinto que tem alguém me observando.

De novo isso?

Tinha um tempo que isso não acontecia. Um ano para ser mais específica. Eu preciso sair daqui... Meu coração bate acelerado no peito e o medo volta a querer pôr as garras em mim.

Eu não posso mais fazer isso. Não tenho em quem me apoiar.

Encaro a janela mais uma vez e não vejo nada. Tento afastar da mente e repito para mim mesma que foi só uma ilusão de ótica.

Sendo assim, saio do quarto e vou me arrumar no banheiro. Não quero que nada tire o brilho do meu primeiro dia letivo. Visto minha calça jeans e um blusa preta sem manga, faço um rabo de cavalo e estou pronta.

Não estou com muita fome, mas para não sair de estômago vazio, como a última banana da fruteira. Volto para o meu quarto e me certifico de que não há ninguém na casa abandonada.

Quando tenho certeza de que não tem uma alma viva no local, saio de casa.

Ao ver que há outras pessoas no ponto de ônibus, me sinto mais tranquila. O longo caminho até o campus começa e com ele o desejo de mudar. Eu deveria aceitar a oferta de Victor e me mudar de casa também.

— Só isso por hoje, pessoal. Passem na biblioteca e leiam ao livro que indiquei no cronograma. É muito importante que todos façam essa leitura porque esse clássico vai nortear toda a disciplina — a professora de literatura clássica nos orienta.

Alguns alunos bufam e não parecem muito felizes em ter que ler um livro clássico. Eu fico até animada porque ainda não tive oportunidade de conhecer a biblioteca. Arrumo minhas coisas e saio da sala junto com outros alunos.

— Vou com toda a certeza do mundo me inscrever no estágio. Se eu tiver sorte, vou conseguir uma vaga pra ficar bem pertinho do Victor. Quem sabe ele não se apaixona por mim? — a mesma menina do dia anterior comenta.

Por sorte ou não, somos da mesma sala. A garota joga o cabelo cacheado com mechas para trás e começa a rir com a amiga.

— Amiga, você precisa parar de ficar fanficando as coisas! Aquele homem é surreal demais pra nossa realidade. Prefiro manter meus dois pés no chão e achar bonito de longe — sua amiga a orienta.

— Quem não arrisca, não petisca. Eu não tenho nada a perder. E me divertir um pouco não faz mal. Sem sonhar, a gente não vive — ergue os ombros para sua acompanhante.

— Você não tem jeito mesmo, né, Soraya? — as duas tomam outra direção e não consigo mais ouvir a conversa.

Soraya deveria ouvir a amiga. O Victor é...

Victor é o que, Ayleen? Sacudo a cabeça afastando o pensamento possessivo que me dominou por um breve momento de insanidade. O Victor não é nada, apenas um estranho conhecido que me ofereceu um emprego diretamente...

Talvez seja por pena... ou sei lá, não importa.

Foco na biblioteca, Ayleen, foco!

Mas e se aquela garota conseguir o emprego e depois conquistar o Victor? Por que me sinto incomodada com isso?

Ele é um galinha que sai pegando todas as mulheres...

Ok, não preciso me preocupar com essas coisas! Minha única preocupação no momento é ir à biblioteca e pegar o bendito livro. Agora me sinto levemente irritada. Que droga.

Passo pelo gramado e nem consigo admirar muito o local porque o meu humor azedou. Entro na enorme biblioteca, faço o meu cadastro e deixo minha mochila no armário; levando apenas minha água, minha identidade e meu celular.

Subo os degraus da escadaria e chego ao terceiro andar onde fica a sessão de literatura. Os livros me trazem um pouco de paz e o meu humor dá uma pequena melhorada.

Mas o assunto Victor continua no fundo do meu pensamento, voltado ocasionalmente, ou não, à tona.

Acabo lendo o livro indicado pela professora naquela tarde mesmo. Só deixando de lado quando sentia fome. Com isso, nem vi a hora passar e posso dizer que a biblioteca se tornou o meu lugar favorito.

Quando dou por mim, já são seis horas da tarde. Se eu não for para casa agora, vai ficar muito tarde, ainda mais que esse é o horário em que o trânsito está mais caótico.

Depois de quase duas horas, finalmente estou descendo no ponto perto de casa. Achei que ia morar nesse ônibus...

Ando os poucos metros até minha casa, mas a estranha sensação de estar sendo observada começa a crescer à medida em que me aproximo ainda mais do meu lar.

Escuto um barulho vindo da casa ao lado e tento o mais rápido possível abrir o portão. Minha respiração fica incontrolável, minhas mãos tremem e me atrapalham de conseguir abrir o cadeado, fazendo com que a chave caia no chão.

Me abaixo rapidamente e pego a chave e dessa vez consigo abrir o maldito cadeado. Entro e fecho o portão apressadamente sem deixar nada cair. Ouço os passos se aproximando e minhas pernas resolvem desobedecer. Fico congelada no mesmo lugar.

Não é hora pra isso, Ayleen! Reage!

Meu corpo ainda continua indisciplinado e desobediente, eu fico com muita raiva de mim mesma por ser fraca desse jeito. É só correr, só isso! Por que eu sou tão incapaz?

Os passos continuam ecoando sobre a calçada de concreto.

Porém, uma luz clareia a rua mal iluminada. Um carro chique estaciona em minha calçada e eu sei muito bem quem é que está por trás do volante.

Victor sai do carro e a pessoa foge correndo. Só consigo ter um vislumbre de uma roupa toda preta e não posso identificar se é homem ou mulher.

Meus pés ainda estão congelados.

Victor chega ao meu portão com um olhar preocupado e sintouma estranha sensação de alívio ao vê-lo. 

Victor chegando na hora certa 🤧

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Victor chegando na hora certa 🤧

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