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O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado — William Shakespeare

Ayleen

Depois de mais um dia cansativo, chego em casa muito tarde. O final de semana foi muito complicado. Minha mãe passou o resto do sábado abatida e preferiu ficar sozinha. Sem muito o que fazer, voltei para casa e permaneci remoendo tudo o que ela havia me contado.

Não apenas isso, mas o fato de que eu recebi a "ajuda" de quem eu menos deveria aceitar. Isso é muito errado. Eu não posso simplesmente devolver o dinheiro. Não, é uma indenização bem injusta, pra falar a verdade.

Ontem, domingo, minha mãe não parecia muito melhor. Suas respostas eram monossílabas e ficou séria durante todo o período em que estive lá. Eu sei que tudo é demais para ela, ainda mais quando eu fiquei do lado do filho do inimigo.

Acho que ela está muito desapontada comigo.

Todos os meus pensamentos se calam quando penso ver alguém na casa abandonada. Trato de me apressar e fecho o portão mais rápido do que posso imaginar. Corro para dentro, tranco a porta da entrada, acendo a luz e vejo se a porta dos fundos está realmente trancada.

Quando me certifico de que ambas as portas estão, volto para a sala e largo minha mochila no sofá, suspirando fundo. Não sei se o que vi era real ou não. Pode até ser coisa da minha cabeça.

Sei lá, talvez o excesso de preocupação, ansiedade e estresse, tenha me feito imaginar coisas. Com isto se repetindo em minha mente, vou tentando me acalmar e respiro com mais estabilidade.

Até porque não tem nada de valioso aqui...

Sento-me no braço do sofá e passo alguns instantes olhando para a televisão desligada. Eu preciso descansar, minha mente já não aguenta mais. Como se tivesse tempo pra isso.

Assim que me sinto pronta, me ergo bem a tempo de ouvir o meu estômago roncar.

Quando foi mesmo a última vez que comi? No almoço?

Olho para o relógio de parede redondo com um fundo de galinha, que está à minha direita, e vejo que são quase meia-noite e cinquenta e cinco. Tem praticamente doze horas desde a minha refeição...

Meus pés protestam quando ando até a cozinha, mesmo depois de três dias, as feridas provocadas pelo sapato que usei no leilão ainda não se cicatrizaram. Sinto mais agora que o corpo esfriou e a exaustão bateu.

Chegando no cômodo, pressiono o interruptor e o ambiente se ilumina com a luz amarelada. Abro o armário de madeira e pego o último macarrão instantâneo, colocando o produto em cima da pia enquanto pego uma panela para esquentar a água.

Quem é Victor Agostini?

O pensamento vem como um sopro leve. Algo não planejado e que me deixa confusa.

— Eu não preciso saber disso — descarto, em voz alta.

Fazer uma pesquisa não vai ter matar...

Será que não?

Minha mão formiga com a antecipação de pegar meu celular e digitar o nome dele no google. A parte sã de minha mente tem uma grande placa com um "não" em neon. Mas, a parte louca, montou um outdoor com um "sim" muito convidativo.

Depois de tudo o que sua mãe te contou...

Minha mãe... não vai saber.

Tiro o celular do bolso traseiro da minha calça e o aparelho parece ter o dobro do peso em minha mão. Pressiono meu dedo indicador sobre o sensor e logo aparece o descanso de tela, uma foto aleatória de uma nebulosa que baixei no Pinterest.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora