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Se você gosta do seu café quente, me deixe ser a sua cafeteira — Arctic Monkeys, I Wanna Be Yours

Ayleen

— Acho que já podemos sair — Victor está quase cochilando. Sua cabeça repousa em meu peito.

Vejo de perto o curativo do lado esquerdo. Uma pequena parte do cabelo em volta foi raspado.

— Tudo bem — ele suspira depois de um tempinho.

Saio primeiro e auxilio-o. A água transbordou pelas beiradas e continuou ondulando após a nossa saída.

— Agora, eu vou te secar — apanho uma toalha felpuda de dentro do armário branco.

— Ayleen, não precisa fazer isso...

Ignoro-o e começo a passar o tecido sobre o seu corpo molhado. Quando chego na área machucada, redobro o cuidado deslizando com muita calma e suavidade. Tenho certeza de que deve estar tudo dolorido.

— Tá doendo muito? — fito-o.

— A dor de cabeça me incomoda mais — segura minha bochecha. — Obrigado por cuidar de mim.

Meus batimentos ficam descompassados ao enxergar toda a potencialidade do seu olhar cristalino e firme direto para mim.

— Não precisa agradecer. Só de você estar bem, na medida do possível; estar vivo... estar aqui, já é uma grande forma de agradecimento — espalmo minha mão sobre o seu peito, sentindo o seu coração bater.

— Como pode uma mulher tão boa como você gostar de mim?

Um sorriso levanta os meus lábios e eu respondo. — Não é por causa da sua família.

Não mesmo, a família vinda direto dos contos de fada da Disney. No caso, os vilões.

Victor solta uma risada, surpreso por minha resposta.

— Minha família é a última coisa a se gostar em mim. Denise sempre foi dramática e Josué indiferente.

— Sem comentários quanto a isso — indago.

Termino a tarefa e me cubro com um roupão. E eu não trouxe minha bolsa com as roupas...

— Agora o senhor vai me esperar lá na cama que eu já volto — ordeno.

— Ayleen, eu ainda não tô bom pra esse tipo de aventura — brinca.

Viro-me para ele e estreito os meus olhos em sua direção. Como resposta, me dá um sorriso bobo.

Sacudo a cabeça saindo da suíte ao mesmo tempo em que ele põe sua box. Ouço suas risadas atrás de mim e me pego compartilhando a mesma ação.

Assim, desço as escadas e caminho até a cozinha, já que foi ali o local o qual Diogo deixou os medicamentos recém-adquiridos. Marta não se encontra, então estamos sozinhos.

Quando volto, Victor está sentado na ponta da cama, colocou uma bermuda e levanta a cabeça ao ouvir os meus passos. Largo a bolsa do seu lado e começo a cuidar do curativo de sua cabeça.

Ele, por sua vez, envolve os seus braços na minha cintura e aguarda enquanto termino o processo. Depois que faço curativo em todas as feridas, ele põe uma blusa e se acomoda na cama.

— Você vai ficar com esse roupão a noite inteira? — pergunta ao me ver descartando o material utilizado.

— Eu fiquei mais preocupada com a sua alta... acabei esquecendo minha bolsa com roupas lá em casa — ergo os meus ombros, como se me desculpasse.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora