Triste por te ver partir, eu meio que esperava que você ficasse — Arctic Monkeys, Do I Wanna Know?
Ayleen
O trânsito ridicularmente engarrafado só me deixa mais irritada. O pior de tudo é ficar no escuro; ninguém me conta absolutamente nada. Victor não me atende, os seguranças fingem não me ouvir e claro que o trânsito também não me ajuda.
A única coisa que sei é que devo ir ao hospital. O que me desespera em vários níveis levando em conta que hoje foi o dia do retorno do Victor. E se ele passou mal? E se aconteceu outro acidente?
É horrível ter essa sensação de déjà vu. Uma sensação nauseante me domina fazendo-me lutar para ter um pouco de ar. Sem me importar com o ar-condicionado ligado, abro a janela e recebo um pouco do ar noturno.
Fecho os olhos e tento respirar com mais calma, controlando cada inspiração e expiração.
— Senhorita, não fique com o rosto colado à janela — Oliveira resolve chamar minha atenção, mais uma vez.
Voltando-me para minha posição, fixo os olhos no apoio de cabeça do banco do carona.
— Eu só precisava de um pouco de ar. Só isso — me defendo.
Ela não fala mais nada. E eu me estresso mais.
— Levar uma bronca, eu posso. Mas saber o que tá acontecendo, não? Não acha que é injusto? — minha voz sai calma, muito diferente de como me sinto.
Como esperado, recebo o silêncio de volta.
Frustrada, me jogo para trás e o miro o teto. Os sons caóticos do trânsito se tornam secundários. Tiro o celular da bolsa e tento ligar mais uma vez para ele. Nada. Nenhuma resposta.
O carro avança mais um pouco.
O dia tava tão bom, pena que a noite trouxe uma outra resolução.
Victor
Denise corre pelo corredor até chegar na recepção da ala de emergência; o lugar onde estou. Não sei quem a informou, ou como informaram. De todo jeito, ela está aqui. O rosto preocupado e semblante cansado.
Trocamos um olhar longo. Não me movo, mas ela sim. Com pouquíssimos passos, ela me envolve em seus braços. Isso é mais para o seu consolo do que o meu. Relaxo o corpo tenso e afago suas costas.
— Meu filho querido — sussurra.
Não respondo.
— O que aconteceu com o seu pai? — após um tempo, ela pergunta.
— Josué desmaiou durante uma briga. Os paramédicos disseram que se tratava de um ataque cardíaco. Ele acordou quando estávamos próximos ao hospital.
Eu vocalizo os fatos, mas não sinto nada. É como se ele fosse um estranho. Denise se afasta e me encara.
— Você soa tão frio, nem parece que fala do seu pai.
— Eu poderia te responder de várias formas, no entanto, irei me conter — dou alguns passos para trás, pondo uma distância entre nós.
— Victor, isso já foi longe demais. Olha como nossa família tá destruída. Nos tornamos completos estranhos e...
Solto uma risada ácida.
— De novo esse assunto? Família? Não vou discutir. Acho que já fiz muito acompanhando-o na ambulância.
Eu preciso falar com a Ayleen.
Viro-me e saio da ala de emergência. Tateio o bolso da calça em busca do meu celular, mas não encontro.
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Declínio
Romance⚠️NÃO RECOMENDADO PARA MENORES 🔞⚠️ O QUE VOCÊ FARIA POR AMOR? Alçada pelo desespero, a jovem Ayleen se vê nas mãos do destino. Sua vida se resume em cuidar de sua mãe doente e trabalhar incansavelmente em tudo o que for possível, ela se encontra, d...