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É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado — Guimarães Rosa

Ayleen

O som do celular tocando me desperta. Abro os olhos um pouco desorientada. A luz do quarto ainda está acesa, não sei quando foi que dormi. Levanto a cabeça e sinto uma dor no pescoço por ter ficado de mal jeito. Tateio a cama e encontro o aparelho próximo à minha cabeça.

Deitei enquanto esperava alguma resposta do Victor e acabei pegando no sono. E nenhuma resposta veio.

Atendo automaticamente, sem conferir o número.

— Senhorita Ayleen? — uma timbre masculino, que não reconheço, questiona.

— Sim? — minha resposta é totalmente incerta. Além disso, minha voz evidencia o meu recente despertar.

— Sou o Diogo, motorista do senhor Victor...

Ponho-me sentada. Qualquer indício de sono vai embora e me sinto completamente desperta. Um sensação esmagadora toma conta do meu peito. Por que o motorista dele tá me ligando?

— O que houve? Ele tá bem? Não consigo falar com ele. Ele tá com você? — cada sentença é disparada sem intervalos. Sou incapaz de permanecer sentada, levanto e começo a andar pelo quarto.

O tal do Diogo demora a me responder, e isso não me ajuda em nada. A linha fica muda. Até acho que a ligação caiu.

— Alô? — me responde!

— Senhorita... — uma pausa — o Victor sofreu um acidente no retorno do encontro com os executivos de uma filial no centro do país... — ele fala mais alguma coisa, mas não consigo ouvir.

Não... outra vez? Será que todos ao meu redor precisam se machucar?

Meus olhos se enchem de lágrimas que ameaçam transbordar a qualquer momento. O aperto no meu peito esmaga completamente o meu coração que parece bombear com muita dificuldade. O chão sob os meus pés se torna incerto.

— Ele... o Victor... eu... o quê? — as palavras saem tortas e confusas, não tenho qualquer capacidade de formular algo inteligível.

— Respira, senhorita. O senhor Victor já se encontra no ao hospital. Ele tá na UTI. Desculpe, não tenho mais informações — Diogo se desculpa com uma voz cansada.

UTI... o Victor... vai morrer?

Vou perder todo mundo que me faz feliz?

— Qual hospital? — a primeira lágrima quebra a barreira e dá espaço para as próximas.

— Senhorita... eu não posso dizer. Os pais dele não gostariam...

— Eu não ligo pros pais dele! — grito, desesperada — Eu preciso vê-lo... — sussurro.

Escuto um suspiro do outro lado da linha e sons de passos. Então, uma porta sendo fechada.

— Ouça, essas pessoas são poderosas e podem te fazer mal com um simples estalar de dedos. Tem certeza de que quer vir até aqui? Eu posso te manter informada sem a necessidade de sua locomoção — tenta me persuadir.

Uma risada seca e sem humor transborda em meio às minhas lágrimas.

— Eles já destruíram tudo o que tive. Cansei de me esconder e ter medo — limpo o meu nariz com o dorso da mão —, por favor, só me diz...

Com uma voz relutante, Diogo cede. — Ele tá no Hospital São Camilo de Lellis, no último andar reservado aos Agostini. Escute bem, A senhora Agostini não vai sair da sala de espera. O acesso ao último andar precisa de autorização.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora