Eu desmorono completamente quando você chora— Arctic Monkeys, 505
Ayleen
Fugir não é a melhor alternativa, eu sei disso. Mas quando você é pego de surpresa, quando te atingem no seu lado mais vulnerável, a razão é a última a ser ouvida.
Eu me sinto fraca e quebrada. Esgotada.
Tentei aguentar o mundo, tentei ser forte e me agarrei a doce ilusão da felicidade. Mas tenho que entender de uma vez que pessoas como eu não nascem para serem felizes.
Quão doente uma pessoa pode ser ao ponto de enganar a outra assim?
Penso na minha mãe. Dói ainda mais.
Ela disse para eu não me envolver com os Agostini — solto uma risada —, eu deveria ter escutado.
Tão idiota, tão burra. Achou mesmo que poderia ser amada com tanta intensidade? Achou mesmo que um homem como ele seria seu?
Engulo um soluço e seco o rosto com o dorso da mão.
Minha cabeça está tão confusa.
E se não for verdade? Se ele for inocente?
Mas ele disse: "como ficou sabendo disso?", então, sim, tem alguma verdade nisso.
— Você quer ir aonde, senhorita? — o segurança, que ainda não sei o nome, pergunta.
Eu quero o abraço da minha mãe. Eu quero ouvir sua voz dizendo que vai ficar tudo bem. Eu também quero quem eu acabei de repelir.
— Eu não sei — minha voz sai tão baixa que penso que ele não vai me ouvir. Porém, ele escuta.
Não sei se há uma resposta de sua parte, mas o carro continua no tráfego.
Sinto vontade de gritar; gritar tanto até ficar sem voz. O veículo permanece em movimento e a estrada parece tão longa, tão dolorosa.
Quando dou por mim, estamos na orla de uma praia que eu não conheço. Está vazia. A luz do luar reflete na água escura. O mar se movimenta languidamente formando pequenas ondas que quebram ao se encontrarem com a areia.
— Senhorita — Oliveira se vira para mim, encarando-me com avidez —, dizem que o mar tem um poder supremo. Ele parece infinito e sempre se renova. É tempestivo, temperamental. Te engana, mas não se engana. Quem sabe se você deixar toda a sua tristeza ser carregada pelas ondas, a correnteza se abra pra uma inundação de felicidade.
Olho para ela e não tenho o que dizer. Primeiro, porque sou tomada pela surpresa e segundo, porque estou impactada por suas palavras. Como uma tola, apenas aceno em concordância.
Enquanto ela fala comigo, o outro segurança se retira do carro e verifica os arredores da praia. Depois de dar o aval, saio do automóvel e Oliveira vem comigo.
— Vou te observar à distância, fique tranquila — ela fica para trás à medida em que me locomovo.
Chego até o limite entre o calçadão e a areia. Tiro os meus tênis e meias, sentindo o chão áspero sob os meus pés. Sem hesitação, afundo os dedos na areia fofa e morna.
A brisa marítima assola os meus sentidos. O som do mar me atinge, como um abraço. Bem longe, vejo um ponto brilhante distante. Um navio, talvez.
Meio atordoada, encosto os pé na água gelada. A onda se choca comigo. Se parte em mim. Eu me parto aqui.
Continuo caminhando, a água atinge o meu tornozelo.
Continuo caminhando, a água chega à minha coxa.
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Declínio
Romance⚠️NÃO RECOMENDADO PARA MENORES 🔞⚠️ O QUE VOCÊ FARIA POR AMOR? Alçada pelo desespero, a jovem Ayleen se vê nas mãos do destino. Sua vida se resume em cuidar de sua mãe doente e trabalhar incansavelmente em tudo o que for possível, ela se encontra, d...