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As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a mais simples palha — William Shakespeare

Ayleen

Se o Victor não tivesse interrompido o nosso beijo, a situação teria se incendiado ainda mais. Meu controle foi para o espaço e a única coisa que me restou foi a vontade de saciar o desejo, algo bem novo para mim.

Ainda estou um pouco zonza, tentando recuperar o fôlego. A sensação de senti-lo tão próximo de mim ainda pulsa no meu corpo. Minha pele continua arrepiada. Preciso sair dessa nuvem e voltar pra Terra.

Miro no rosto dele e sua expressão está completamente transpassada pela excitação. Não só a expressão, constato ao descer o olhar para o seu colo e notar o volume presente em sua calça. Sinto minhas bochechas queimarem e passo a língua nos lábios.

— Ayleen — Victor quase rosna —, se você continuar fazendo esta cara, vou acabar cometendo um ato insanamente depravado e tenho certeza de que ainda não está preparada pra isso.

Seus olhos azuis estão mais escuros e parecem arder em chamas perigosas. Em contrapartida, sinto o meu ventre se retorcer com a expectativa de suas palavras. Meu corpo sabe muito bem o que quer.

Mas ainda não, Ayleen. Minha mente, a parte que ainda está racional, me alerta.

Me ajeito no sofá e afasto os meus olhos dos seus, mirando na TV desligada. Fecho os olhos; respiro e inspiro antes de voltar a encará-lo. Não é uma tarefa nada fácil.

— Quer uma água? — é a primeira coisa que digo. Victor solta uma risada baixa e sacode a cabeça.

— Ficou com calor? — ergue uma sobrancelha.

Preciso mesmo responder? É como se o sol tivesse sobre mim.

Respondo com uma careta e vou até a cozinha com sua risada ecoando nos meus calcanhares. Tiro a jarra da geladeira, pego um copo de vidro do armário e um pensamento nada feliz passa por minha cabeça.

Será que ele tá ficando com você e mais quantas? Quem te garante que aquele papo de "quase um ano" sem ver ninguém é verdade? Você é uma idiota, Ayleen.

O copo despenca da minha mão antes mesmo que eu possa evitar. O som de estilhaço preenche a quietude do cômodo me fazendo praguejar pelo descuido. Antes mesmo que eu possa me abaixar para juntar os cacos, Victor chega à cozinha.

— O que houve? Se machucou? — ele inspeciona primeiro o meu rosto e depois o meu corpo.

— Não, o copo escorregou. Não foi realmente nada — me abaixo para catar os cacos maiores.

Victor se agacha também e começa a recolher junto comigo. O pensamento intrusivo e não solicitado ainda continua firme e forte, tanto que sinto um pedaço do vidro rasgando a pele do meu dedo indicador.

— Ai — por reflexo, retraio minha mão, direciono meus olhos ao meu dedo e vejo o filete de sangue deslizando pelo comprimento.

— Deixa eu olhar — Victor se mete.

— Não. Tá tudo bem.

É claro que ele não me escuta e pega minha mão, analisando cuidadosamente a profundidade do corte.

— Vamos lavar este dedo e fazer um curativo. Onde tem um kit de primeiros socorros?

— No banheiro.

Como não adianta falar nada, nós dois nos levantamos — ele segurando minha mão — e vamos ao banheiro. Chegando lá, aponto para o armário embaixo da pia.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora