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Se há tantos caminhos a seguir, como saberei qual deles é o certo? — Allimidul Seohlub

Ayleen

Estou olhando para o teto por tanto tempo que nem sei por que faço isso. Me sinto completamente perdida como se algo dentro de mim tivesse quebrado por completo.

Tudo se confunde, tudo parece igual. Eu tô uma bagunça. O meu piloto automático está acionado. E eu penso nele. E eu pensar nele dói. E eu penso na minha mãe. E eu penso na minha mãe naquela maca, completamente sem vida. Não dói, é simplesmente insuportável.

Não sou irracional ao ponto de não perceber que ele não me machucaria de propósito. Mas não consigo encontrar forças. Não sei se sou forte o suficiente para enfrentar tudo isso. Não sei se tenho sanidade suficiente.

Se fosse por vontade própria, não sairia de casa. Continuaria aqui, olhando para o teto. Tentando entender tudo o que sinto. Eu retrocedi. Voltei ao mesmo estágio de um ano atrás.

Que dia é hoje mesmo?

Bem, não importa. Os dias se assemelham. As horas não me abalam.

Paro de encarar o teto e tateio o sofá em busca do meu celular. Quando encontro, abro nas mensagens. E vou direto no número da minha mãe. O número que não consigo me desfazer. O número que mantenho ativo.

"Me sinto mal hoje. Sim, a culpa é minha de várias maneiras possíveis. Mas, mãe, o que eu faço?"

"E se eu ceder, o quanto mais vou me machucar? E ele?"

Nesse meio tempo, vejo que alguém me enviou alguma coisa.

Pablo:

Já tá vindo?

Então hoje é dia de semana.

Eu:

Talvez.

Com todo o esforço do mundo, me levanto do sofá e vou me preparar. Nem sei ao certo quanto tempo demoro, no entanto, Oliveira e Souza — enfim descobri o nome — estão do lado de fora, aguardando qualquer movimento meu.

E assim, de alguma forma, consigo chegar até o campus. Veja a hora no celular e noto que a aula já começou tem meia hora.

Não sou a única atrasada. Outros alunos entram comigo, então a atenção não é dirigida a mim. Sento-me no fundo da sala. E tento me concentrar ao que está sendo falado, contudo, é inútil.

Será que o Victor tá bem?

Os seus olhos feridos ainda me causam bastante dor. E eu não consigo parar de lembrar. Nada está fazendo muito sentido ultimamente. Eu não faço sentido.

Os meus sentimentos se confundem dentro de mim. Eu sei que não é justo. Porém, eu só quero chorar em um canto escuro, bem longe do mundo.

Meus olhos estão fixos em um ponto qualquer, mais uma vez. Não sei por quanto tempo.

— Ayleen? Ayleen? — Pablo me tira do meu estupor.

— Oi? O que foi? — foco no seu rosto.

— Tá na hora do intervalo — ele me encara com pena.

— Ah — minha resposta é monossílaba.

Pablo arrasta uma cadeira e fica de frente para mim.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora