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E assim, em um piscar de olhos, a avalanche acontece — Allimidul Seohlub

Ayleen

A viagem de volta é silenciosa e sombria. Victor não fala nada desde que encerrou a chamada. Eu sei que o seu pai era uma péssima pessoa, mas eu não queria a sua morte.

Acho que Victor também não queria que isso acontecesse. Eu sei muito bem que a morte mexe com a gente...

Olho para o lado e vejo o seu semblante impassível. É impossível saber o que passa na cabeça dele. Não quero forçá-lo a falar. Então, levo minha mão até sua coxa e dou um leve aperto, só para ele saber que estou aqui do seu lado.

Victor põe sua mão sobre a minha e alisa os meus dedos. Bom, pelo menos ele não me afastou.

O trajeto parece demorar mais do que o normal, o dia que começou lindo, está prosseguindo de forma pesada.

Chegamos em sua casa e não era dessa forma que eu queria que fosse a nossa reconciliação. Respiro fundo e empurro o pensamento para o lado.

— Ayleen — fala após o longo tempo em silêncio —, eu preciso ir. Tenho que resolver alguns assuntos. Será que você pode me esperar aqui?

Fito-o e enxergo uma pontada de medo no fundo dos seus olhos. Tiro o cinto de segurança e coloco o seu rosto entre minhas mãos.

— Você não tá sozinho. Eu vou te esperar aqui. Se quiser conversar, se só quiser ficar em silêncio...enfim, tô aqui pra ficar com você.

Ele acena e me abraça apertado, como se estivesse recarregando suas energias.

— Obrigado por estar aqui. Não sei como seria sem você. Os seguranças vão chegar daqui a pouco. Você tá segura aqui — Mesmo em um momento como este, se preocupa comigo. Eu deveria me agarrar a ele e não soltar nunca mais.

Mas a realidade chama. Nos soltamos, sem muita opção. Acaricio o seu rosto mais uma vez e deixo ele ir. Um aperto toma conta do meu peito assim que vejo o carro se afastando para longe. Algo vai acontecer.

Fico parada por um bom tempo mesmo depois de o veículo partir. Que ele volte pra casa bem. Então, de repente, um vento gelado balança as árvores ao meu redor me provocando um calafrio na espinha.

Pode não significar nada; pode ser minha imaginação querendo pôr sentido em todos os fenômenos. Decido que já é hora de entrar e deixo as sensações esquisitas para trás.

Alguma ave emite um piado muito alto e assustador. Meu Deus, será que tô em um filme de terror e ainda não sei?

A morte de Josué Agostini tem a capacidade de mexer com o cosmo? Ele era alguém tão importante assim pra natureza ficar esquisita desse jeito?

— Não, Ayleen, você só tá maximizando as coisas. Seus sentidos estão mais aguçados. É só isso — me conforto enquanto chego à varanda.

Porém, tudo muda quando entro na cozinha. De pé, com uma arma apontada em minha direção, Denise me encara com feições enlouquecidas.

— Eu te disse pra ficar longe do meu filho — ela não pisca. Seu tom já está morto. Os sapatos claros estão manchados com respingos de sangue.

Não consigo ter reação. O medo me faz ficar estática. Posso ouvir o meu coração batendo em meus ouvidos, minhas mãos começam a tremer. Então, minha ficha cai. Denise assassinou o Josué.

Victor

Meu pai está morto.

Porra, Josué Agostini tá morto.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora