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Não precisa correr tanto, o que tiver de ser seu às mãos lhe há de vir — Machado de Assis

Victor

Eu agi por impulso e a consequência do meu ato acabou de vomitar no gramado. Me arrependo de não ter vindo no meu próprio carro, seria mais fácil para escapar daqui. Mas Diogo é rápido e não preciso esperar por muito tempo.

A menina levanta um pouco o vestido e me acompanha. Seu andar está um pouco vacilante e ela não quis tirar a máscara. Ainda não pude ter um vislumbre do seu rosto por completo. Me pergunto se ainda é adolescente...

Não, eles não deixariam alguém de menor participar de algo assim. A repulsa me domina só de imaginar o Geraldo tocando em alguém que tem idade para ser neta dela.

Diogo sai do carro assim que nos ver. Abre a porta e aguarda nossa entrada. Gosto de trabalhar com ele por conta de sua discrição e agilidade. Sem perguntas, sem olhares julgadores. Apenas faz o que precisa de forma eficiente.

— Qual é o seu endereço? — pergunto próximo ao ouvido dela.

Ela estremece de leve, mas não demonstra nada. Apenas larga sua mochila aos seus pés.

— Rua quatorze, Santa Fé — responde audivelmente.

Esse bairro fica do outro lado da cidade. Digamos que não frequento com muita assiduidade. Quem eu quero enganar, nunca pisei naquele lado da cidade.

Ravena interpreta o meu silêncio de forma errada.

— Não se preocupe, seu carro não vai ser roubado.

O quê?

— Roubado? Não tava pensando nisso. Seria pedir muito saber o seu nome? — mudo de assunto.

— Depois de pagar 400 mil, saber o meu nome não é nada. Ayleen, meu nome é Ayleen.

Ayleen... um nome diferente.

— Ayleen — testo em meus lábios.

— E o seu nome é Victor. Ouvi a Fernanda dizendo — dá de ombros.

Fernanda foi mais uma que passou por minha cama. Nos divertimos e foi isso. Cada um seguiu o seu rumo.

Após um grande intervalo de tempo em silêncio, Ayleen parece se preparar, logo em seguida suspira e me lança uma pergunta.

— Eu não sei o que te levou a participar deste leilão, mas sei que cada um tem o seu motivo ou motivos. Também sei que preciso cumprir com minha parte do acordo — ela se ajeita no banco —, o que você vai querer em troca? O que vou precisar fazer? — sua voz falha.

Observo bem a menina sentada do meu lado. Ela não é nada como as mulheres que estou acostumado, sempre seguras de si e prontas para qualquer coisa. Ayleen carrega algo nos olhos, eu ainda não sei o que é.

O que a fez participar disso? Qual é o motivo?

— Eu não preciso de nada.

Ela se vira bruscamente para mim e, mesmo através da máscara, posso ver seus olhos arregalados de surpresa. Sua boca se abre e se fecha sem saber o que falar. Lábios vermelhos cheios.

— Eu não entendo, não mesmo — comenta quando encontra as palavras.

Levanto uma sobrancelha. — Preferia que pedisse algo?

Ayleen balança uma das mãos, a que não está com o meu lenço, e me responde. — Não, só fiquei surpresa — respira fundo e solta o ar. — Pra ser honesta, o velh... o homem — se corrige — que tava do seu lado. Eu não queria ter sido leiloada a ele.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora