⚭47

10.1K 1K 264
                                    

E um amor arruinado, ao ser reconstruído, cresce muito mais belo, sólido e maior — William Shakespeare

Ayleen

Olho para trás e vejo quem é. Josué Agostini, pai do Victor. O meu terror.

O homem não está sozinho. Uma dúzia de jornalistas o acompanha. Alguns observam a cena maliciosamente, enquanto outros se surpreendem pela falta de postura da primeira-dama. De todo o jeito, Denise se afasta de mim e busca se recompor.

Josué me encara com um misto de curiosidade e indiferença. Me sinto subitamente mal só de estar no mesmo ambiente que ele. Meu estômago se revira e sou obrigada a dar alguns passos para trás.

— Querido... você trouxe a imprensa? — seu tom tem um quê de repreensão.

— Peço que ignorem o que acabaram de presenciar — descarta a esposa e fala com os jornalistas.

Eles consentem e aguardam.

Josué, voltando-se à esposa, responde. — Somos figuras públicas, não podemos manter tudo no sigilo. Vou chamar o médico.

O homem grisalho e alto passa por mim, deixando o meu peito gelado. Eu só queria que o Victor tivesse comigo agora.

Sinto dedos frios me segurando pelo cotovelo e puxo o meu braço de volta.

— É melhor você não fazer nenhuma cena aqui — a mulher murmura ao meu lado com um sorriso falso no rosto.

— A única de nós que gosta de fazer cena aqui, é a senhora — devolvo o mesmo sorriso falso.

— Vá embora, seu lugar não é aqui — continua sussurrando.

— Tenho liberdade de ir e vir — os jornalistas observam nossa troca com bastante interesse.

— Você é só uma criança. Não sabe de nada. Esqueça o meu filho — a cobra não desiste.

Antes que eu possa falar algo, o pai do Victor retorna com dois médicos. Minha respiração trava e eu tenho um pouco de medo da realidade. Eu só quero que ele esteja bem.

— Doutor! — Denise me esquece e muda de foco — Como tá o meu filho? Ninguém me fala nada — sua voz fica chorosa.

— Boa noite, sou o César e este é o Júlio. O Victor sofreu um grave trauma na cabeça. Fizemos uma ressonância e constatamos a presença de coágulos na região cerebral. Precisaremos fazer uma cirurgia com urgência, mas há um edema no local. Tentaremos reduzir o inchaço a fim de realizarmos a cirurgia.

Minhas pernas fraquejam e o meu ar é roubado. Só quero ir pra um cantinho chorar.

— Doutor, o meu filho... ele vai sobreviver? — Denise pergunta o que todos queremos saber.

Olho atentamente para o médico, temendo sua resposta. Não! Ele vai sobreviver... ele tem que sobreviver, não existe outra hipótese.

O outro médico toma a palavra.

— Senhora, é muito cedo pra determinar com certeza. Faremos o possível pra que ocorra tudo bem durante a cirurgia, contudo, sempre haverá riscos.

A mulher é amparada por seu marido. Seu corpo quase despenca ao chão.

— Senhora! — um dos médicos a examina depois que o marido a acomoda em uma das poltronas.

Me sinto completamente sufocada. Preciso sair daqui. O ar não consegue preencher os meus pulmões. Praticamente corro para fora da sala de espera e ando sem rumo. Escoro em uma parede qualquer e deslizo até o chão.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora