⚭16

15.2K 1.3K 189
                                    

E nós colecionaremos os momentos um por um, eu acho que é assim que o futuro é construído — Feist, Mushaboom

Victor

Minha mãe está indecisa. Seus olhos se fecham em fendas, me encara como se não acreditasse no que estou dizendo. Quando a senhora souber... preciso ligar pra alguma funerária e providenciar um plano.

Não posso julgar dona Denise. Eu mesmo ainda estou assimilando o que acabei de dizer. Sei que pode ser um pouco arriscado — para a menina, no caso —, mas não quero mais minha mãe se envolvendo na minha vida amorosa, ou a falta dela.

— Victor, se isso for uma mentira... — seu tom garante a ameaça.

— Não tô mentindo — apenas omitindo o fato de que a minha acompanhante ainda não sabe de nada.

Ela continua desconfiada. — Não sei, Victor. De qualquer forma, convidarei a filha do Elizeu. É sempre bom ter mais opções.

Reviro os meus olhos e me sinto um adolescente controlado pelos pais.

— Não será necessário. Entretanto, se a senhora quiser convidá-la sem ter segundas intenções, então não há problema.

Sua mão sobe para o peito como se eu houvesse a ofendido. Um belo show de drama.

— Eu só quero o melhor pro meu único filho! Quando tiver a minha idade e for um solteirão idoso, vai se arrepender por ter deixado passar tantas oportunidades de ser feliz.

Não vejo problema nenhum em ser um solteirão idoso.

— Oportunidade de me enlaçar com alguma interesseira? — pergunto, com sarcasmo.

Denise balança a cabeça em incredulidade.

— Não entendo sua relutância com relacionamentos. Meninas ricas não são interesseiras. Elas já têm tudo. Um marido rico é apenas um bônus.

Não sei de onde minha mãe tirou toda essa ingenuidade. As meninas ricas são ainda mais interesseiras e gananciosas.

— Sinto em discordar da senhora. De todo o jeito, creio que o assunto tá encerrado. Infelizmente a sua viagem foi em vão — deixo bem claro que o tópico foi finalizado.

Minha mãe se dá por vencida, por enquanto, e acena positivamente.

— Tudo bem, meu filho. Te ver nunca é um desperdício. Bom, também preciso ir. Tenho que organizar muita coisa. A semana vai ser agitada! — empurra a poltrona levemente para trás e se levanta elegantemente.

Me coloco de pé e acompanho-a até a porta. Nos despedimos e ela deixa três beijinhos em minha bochecha antes de sair.

Agora preciso resolver outro problema: encontrar a Ayleen.

Talvez eu devesse pensar antes de agir por impulso. Não sei o que acontece, mas essa menina me faz esquecer os meus pensamentos racionais. Ser dominado por minhas emoções não faz parte do meu estilo de vida.

— Magda— chamo minha secretária quando minha mãe já sumiu do meu campo de visão.

A mulher gira sua poltrona e fica de frente para mim. — O que foi, menino de ouro?

— Menino de ouro? — repito, em confusão.

— Claro. Você é o ouro mais precioso do Brasil, atualmente.

Bufo, descartando sua fala.

— Sabe muito bem não ligo pra essa merda. Enfim, preciso que ligue para o organizador do leilão e consiga o número da Ayleen. Impossível haver outra pessoa com este nome naquele dia. Quando já tiver o número em mãos, traga pra mim — Magda acena e se volta para sua mesa.

Tendo certeza de sua competência, volto para a minha sala e finjo não sentir um leve desconforto. Então, uma ideia estúpida martela em minha cabeça. O endereço você já tem... e se...

Não!

Não vou ser tomado por ações imprudentes. Vou aguardar o retorno da Magda. É o mais prudente a se fazer. Mas por que o pensamento não se acalma?

O que essa menina tem de tão especial?

Sacudo a cabeça e tento voltar à razão. Continuo a analisar a pilha de contratos que decora a minha mesa. Vez o outra levanto os olhos para a porta como se Magda fosse entrar a qualquer instante.

No entanto, chega a hora do almoço e nada de novo. Magda entra com a minha comida e deixa sobre a mesa de reuniões.

— E então? — sondo.

— O quê? — me responde.

— O número que te pedi?

— Ah, isso? Não me informaram. Disseram que era confidencial. Sinto muito — ela não parece sentir.

Me sinto levemente estressado ao saber da novidade. Só um pouco.

— Desde que horas sabe disso? — indago.

— 10 minutos depois de você me pedir — dá de ombros como se não fosse nada.

Esfrego minha testa em um sinal de insatisfação.

— Não pensou que seria interessante eu saber? Por que esperou que eu te perguntasse?

— Sou uma pessoa muito ocupada, Victor. Acabei esquecendo deste pequeno detalhe — não é como se tivesse esquecido.

— Não acredito nisso — revelo.

— Uma pena. Acho que vai ter que se virar pra conseguir entrar em contato com a moça.

Um sorriso zombateiro queima em seus lábios finos.

— Qual a razão disso, Magda? — o que esta mulher quer de mim?

— Simples, Victor. As mulheres se jogam aos seus pés. Tudo vem muito fácil pra você, nunca percebeu? Que tal tentar colocar algum esforço? Acredito no seu potencial.

Fito os seus olhos e chego à conclusão de que minha secretária precisa se aposentar.

— Ótimo, Magda! Muito obrigado por sua palestra de moral — digo, azedo.

Não tem nada que eu não possa conseguir.

Ela apenas sorri de volta.

— Já que é assim, cancele os meus compromissos da tarde. Vou sair depois do almoço e não sei que horas voltarei — ergo-me e vou para onde minha comida está.

— Já fiz isso, Victor — sua postura continua a mesma.

— Era tudo um plano seu, não é? — puxo a cadeira para trás e destampo a embalagem da comida.

— Claro que sim. Bom almoço, criança.

Só me resta rir da ousadia da mulher que deveria obedecer às minhas ordens. Não tenho moral com minha própria secretária.

Começo a comer o meu almoço calculando os meus próximos passos. Ir até aquele bairro suspeito, mais uma vez. Eu deveria pegar um carro menos chamativo... nunca se sabe.

Sou um homem adulto e muito bem resolvido que está prestes a cometer outro ato insano, em comparação à minha vida regrada, só por causa de uma menina. 

Victor, que isso, moço???

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Victor, que isso, moço???

Votem e comentem, sou carente 🥺🤧

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora