⚭53

10.1K 960 136
                                    

Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois — Guimarães Rosa

Ayleen

Deixo um beijo na bochecha dele como forma de despedida. Quando desço, Marta já preparou um excelente café da manhã para mim. Trocamos algumas palavras à medida em que espero Diogo chegar.

O homem aparece pouco tempo depois e Marta serve um pouco de café para ele. Diogo não recusa. Após isso, partimos em silêncio.

A viagem é curta e quieta. O motorista abre a porta para mim e se despede com um breve aceno de cabeça, nada de mais.

Logo na primeira semana foi um pouco intenso. Alguns jornalistas fizeram questão de aparecer aqui na universidade para tentarem qualquer tipo de informação. Diogo afastou a todos e quando o Victor soube, colocou, não sei quantos, seguranças pela universidade.

Foi algo bem intenso, na verdade. Mas o bom é que são discretos e quase não noto a presença deles.

A aula passa como um borrão, não vejo Lídia e nem o Pablo. No entanto, não importa. Só quero voltar para a casa do Victor o quanto antes.

Do lado de fora da universidade, aguardo Diogo. Enquanto isso, um carro preto e luxuoso estaciona na calçada próximo a mim. Mesmo sem saber quem é ou do que se trata, sinto uma sensação ruim se formando na boca do meu estômago.

O carro reflete o meu reflexo e é impossível ver quem está do lado de dentro. Dou alguns passos para trás a fim de me distanciar do que quer que seja.

A janela traseira vai se abaixando e revela ninguém menos do que Josué Agostini, pai do Victor. Como um cervo perante a um farol, me sinto encurralada. Não quero falar com este homem. Nem agora nem nunca.

Com a ideia certa de voltar para o campus, viro-me de costas e dou o primeiro passo.

— Espera — a voz de comando tenta me paralisar.

Ignoro e dou mais alguns passos.

— É melhor você esperar. Tenho algo a dizer.

Se ela pensa que isso me convenceu, está muito enganado.

— É melhor você vir por bem. Não queira ser minha inimiga.

Sua fala me tira do sério. O ódio queima em minhas veias e a repulsa domina o meu corpo.

Giro os calcanhares e fico de frente a ele. Para minha surpresa, o lorde saiu do carro e está a poucos centímetros de distância de mim. Olhando em volta, percebo que criamos uma cena. Vários estudantes nos observam com bastante interesse.

O segurança aparece e se põe do meu lado. Josué solta uma risada de escárnio.

— Meu filho tá gastando dinheiro com seguranças por sua causa?

Ignoro sua pergunta.

— O que quer?

— Quero falar com você — mira o segurança — a sós.

— Não confio em você — te desprezo tanto, se soubesse... ou será que sabe?

— É mútuo, querida. Vai entrar no carro ou não?

— Prefiro não entrar.

— Mas vai. Não me faça perder tempo — dá para ver que ele está perdendo a paciência.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora