Teu amor na treva é um astro; no silêncio, uma canção; é brisa nas calmarias, é abrigo no tufão — Castro Alves
Ayleen
O médico entra no quarto e junto com ele, os pais do Victor. Solto sua mão enquanto o doutor se aproxima com um copo descartável. Victor não tem força suficiente para pegar, então recebe auxílio.
Vejo a sua cara de frustração. Dou espaço para ele ser atendido com cuidado.
— Doutor, por que o meu filho não consegue segurar o copo? — a mãe dele pergunta bem preocupada.
— Ele acabou de acordar. Seu cérebro ainda tá em processo de recuperação. É normal seu corpo estar limitado. Aos poucos, ele ficará melhor. Não se preocupe — tranquiliza a mulher.
— Faça o que for preciso — o pai dele fala.
Victor termina de beber a água e faz uma careta.
— Meu filho, o que foi? — eu não aguento mais ouvir a voz desta mulher.
— Minha cabeça dói. Só quero descansar — responde.
— Tudo bem, Victor. Também é normal sentir dor de cabeça e cansaço. Afinal, foi uma grande cirurgia. Vou te prescrever o analgésico e você ficará em observação até quarta-feira.
Denise vai para perto do filho e me olha. É como se ela quisesse me passar um recado do tipo: "ele é meu. Cai fora". Reviro os meus olhos, não tenho nem por que disfarçar o meu desgosto por esse ser.
— Você ficará lá em casa quando estiver liberado — continua me encarando.
— Não, eu vou ficar na minha casa com a minha namorada, porque sei que com ela tenho paz — Victor a corta.
Ele pegou gosto pela palavra...
Não escondo o sorriso breve que surge nos meus lábios.
— Victor, não seja infantil. Vou contratar os melhores enfermeiros pra te auxiliar — mira o filho.
— Mãe, eu já tenho 36 anos. Sou bem grandinho pra tomar as minhas próprias decisões sem a interferência dos meus pais. Sinta-se satisfeita. Não era a senhora que queria me ver com alguém?
— Mas...
— Denise — Josué resolve se meter na conversa —, somos todos adultos aqui. Victor pode se resolver sozinho. Nem sei por que ainda tenta. Ele nunca quer nos ouvir.
Imagina se ele fica na casa dos pais... a recuperação ia retroceder.
Cruzo os braços sobre o peito só observando a troca calorosa entre a família do ano.
— Senhores, não é querendo interromper, mas estamos em um hospital e o paciente precisa descansar — até o médico achou os dois insuportáveis.
— Perdão — a mulher tem a decência de parecer arrependida.
— Aconselho apenas uma pessoa ficar no quarto.
— Eu fico — Denise quase se funde à maca.
— Mãe, eu prefiro que a Ayleen fique comigo — pede.
— Eu sou sua mãe. O mínimo que pode fazer e me deixar ter isso — fala, sentida.
Cansada de todo o show e com vontade de tomar um banho, me deixo ser vencida.
Dou alguns passos e fico do outro lado da maca. — Victor, fica com sua mãe. Vou pra casa descansar e depois eu volto pra ficar com você.
Beijo sua testa e faço um carinho em sua bochecha.

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Declínio
Romantik⚠️NÃO RECOMENDADO PARA MENORES 🔞⚠️ O QUE VOCÊ FARIA POR AMOR? Alçada pelo desespero, a jovem Ayleen se vê nas mãos do destino. Sua vida se resume em cuidar de sua mãe doente e trabalhar incansavelmente em tudo o que for possível, ela se encontra, d...