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Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser — Cecília Meireles

Victor

— E aí, Victor, preparado pra fazer um lance? — Geraldo está sentando do meu lado.

Tem meia hora que ele apareceu de limusine na porta da minha casa. Sinto-me estranhamente desconfortável com o nível de proximidade. Tem tanto espaço, mas ele prefere ficar bem do meu lado. Quase colado.

— Vou tentar conseguir três garotas — começa a rir e depois tem uma crise de tosse. — E você?

Ele apoia o braço no meu ombro e ergue uma sobrancelha.

Calma, Victor. Isso é pelo contrato. Pensa na concessionária e no que ela pode se transformar. Só precisa aguentar por algumas horas.

— Não pretendo fazer algum lance. Só tô aqui pra te acompanhar — me afasto discretamente fingindo pegar uma água.

Geraldo bufa e se serve um pouco de uísque.

— Que bobagem! Essas meninas são loucas por dinheiro, vão fazer qualquer coisa por qualquer quantia a mais. Pensa no que podemos fazer... vou desfrutar de cada momento — volta a rir.

Então olha para mim e nega com a cabeça — Mas você não precisa disso, não é? As mulheres se jogam em você.

— Prefiro gastar meu dinheiro com outras coisas — desconverso. — Já tem uma resposta para o nosso contrato? — mudo para um assunto mais neutro.

O mais velho então estala a língua e nega consecutivamente. — Hoje não estamos aqui como homens de negócios. Estamos como camaradas num parque de diversões. Nada de falar sobre trabalho. Chegamos — constata quando o carro estaciona.

O chofer abre a porta para nós e aguarda nossa saída. Outros carros se aproximam e estacionam, outros entram no estacionamento privativo. Dois seguranças ficam de cada lado do portão de entrada.

Nenhum penetra é capaz de sequer chegar nesta rua. Aceno discretamente para eles e entro acompanhado de Geraldo. Já estive neste cerimonial outras vezes. Minha mãe costumava fazer alguns eventos aqui.

Uma grande placa informa que o leilão está acontecendo no 2º andar e mais dois seguranças nos aguarda no saguão. Além desses quatro, mais alguns caminham pelo lugar. Geraldo troca algumas palavras com eles e prosseguimos para a escadaria.

— O meu assento é o 111 e o seu 110, certo? Sua secretária me informou — o mais velho volta a falar comigo.

— Sim — olho em volta procurando nossos lugares.

O grande salão toma conta de todo o segundo andar, praticamente. O teto alto e a iluminação exagerada tornam o espaço ainda maior. Algumas pessoas se ajeitam nas galerias das laterais, como se fosse um grande teatro.

Há mesas espelhadas com certa distância uma da outra. Quatro pessoas podem ficar na mesma mesa. Então, além de nós, os números 109 e 112 também estarão aqui. Nosso lugar fica bem próximo ao palco, temos uma boa visão.

Em cima de nossas poltronas aveludadas, estão as placas vermelhas para os lances. Alguns garçons caminham entre os convidados servindo comidas exóticas e bebidas. Geraldo já se sentou e pegou vários pratos com um deles.

Observo o palco. É alguns degraus mais alto e bem extenso. Uma cortina vermelha, no estilo de um teatro, separa os bastidores do público. Um púlpito de mármore branco está no centro. Por cima dele, há um martelo dourado. Creio que seja de ouro.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora