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A mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração — Machado de Assis

Victor

Chego no escritório dez minutos depois do que eu deveria. A reunião já começou e eu mal tenho tempo de respirar. Algumas pequenas empresas buscam o nosso investimento, tentam ter a nossa parceria. E a reunião de hoje é sobre isso.

Entro na sala e ocupo o meu lugar na ponta da mesa. Um homem alto e magro, que aparenta ter uns 30 e poucos, aponta para um gráfico projetado na grande tela e discorre sobre os lucros obtidos nos últimos meses. Particularmente, minha mente não está aqui.

Por que será, né?

Eu ofereci um emprego para Ayleen em uma editora. Ok, tudo certo. Porém, o problema é que não temos nenhuma editora. Eu deveria pensar antes de falar, com toda certeza.

Então eu devo comprar uma imediatamente? Não seria demais?

Porra, eu estou virando um homem patético.

Confesso, eu não vou negar, que senti uma súbita necessidade fazer algo por ela. De a trazer para perto de mim. Estranho, muito estranho.

Também tem o fato de que ela pode não aceitar a oferta que fiz. O que você vai fazer? Montar um estande na universidade até que ela aceite algum emprego oferecido por você?

Sacudo a cabeça afastando pensamento o patético e infantil.

— Não concorda com os números, senhor?

Um outro homem pergunta um pouco incerto.

— Como? — tento me situar já que não faço a mínima ideia do que estão falando.

Magda se aproxima e sussurra: — Eles estão dizendo que taxa de lucro aumentou em 15 porcento desde que passaram a fazer publicações nas redes sociais.

Acompanhando o seu sussurro, pergunto: — Que tipo de empresa é a deles?

— Uma editora/livraria geek e cult. Eles trabalham com clássicos e publicações de histórias independentes.

Como isso é possível?

— Nós estamos investindo em vocês — digo em voz alta, surpreendendo a todos. E a mim mesmo...

— Mas, Victor... ainda não ouvimos tudo o que eles têm para falar, e se for uma furada? — um de nossos sócios minoritários debate.

Eu precisava de uma editora e a oportunidade magicamente caiu do céu. Como explicar isso para essas múmias?

— Aquino, o senhor tem muita experiência com pequenos negócios. Me surpreende a recusa em querer participar de algo tão promissor.

Olho para o homem careca e pardo que se iguala em idade com o meu falecido avô.

— Os jovens não gostam de ler. Tenho minha neta como exemplo disso. Passa o dia inteiro com a cara no celular e gravando vídeo com a bunda virada para o câmera do aparelho — Aquino despreza a geração Z.

— Se me permite falar — a única mulher do grupo se prontifica. Aceno e ela prossegue —, a juventude atual não pode ser configurada em um ideal fixo. O mesmo jovem que grava dancinhas, como o senhor disse, pode ser um leitor em potencial. A sua neta pode estar lendo um e-book pelo celular e o senhor não notou. As pessoas só precisam encontrar o seu nicho. É como dizem, pode se fazer quase tudo com um smartphone.

Aquino continua com sua cara azeda, contudo, não diz mais nada.

— Alguém mais tem alguma objeção? — todos permanecem calados — Ótimo, podemos concluir o resto das questões. Antes de irem, gostaria que passassem em minha sala.

Durante o caminho, Magda mantém um silêncio incomum. Porém, sinto que ela quer me dizer alguma coisa. Ela sempre quer.

— O seu silêncio tá me matando, Magda. Não combina com você — ironizo assim que chegamos ao meu escritório.

A mais velha coloca algumas pastas sobre a mesa e me encara com os olhos estreitos.

— Você tá diferente. Não sei o que aconteceu naquela universidade, mas você chegou com um meio-sorriso nos lábios. O que foi bem diferente do seu atual estado de "terror dos funcionários". Não estou reclamando, só constatando.

Meio-sorriso?

— Não aconteceu nada. Só reencontrei uma pessoa, nada demais — ergo os ombros.

Magda abre um sorriso e me surpreende com a atitude inesperada.

— Você encontrou com a garota do leilão. Não sei por que a ideia não me venho antes — estala os dedos como se tivesse feito uma enorme descoberta.

À medida em que o sorriso veio, também se foi.

— Victor, conheço o seu histórico de pegar e largar. Não faça isso com a menina. Ela não merece. É nítido que ela não é como as mulheres cheias de experiência e que ficam com fogo pro seu lado — me olha com bastante intensidade.

Abro minha boca para falar, no entanto, o pessoal da editora chega bem no exato momento. Não foi ruim, porque eu não tinha a mínima ideia do que dizer à ela. Eu não quero sair por aí me aproveitando da fragilidade da menina.

Sei que não tenho um histórico bom como ela disse, entretanto, não sou estúpido. Sei dos meus limites. O sentimento que me aflora na presença da Ayleen não passa de algo platônico. É apenas isso.

— Podem entrar — inclino minha cabeça em direção à porta da minha sala.

— Pense no que te falei — Magda me adverte.

Eu não sou idiota, Magda.

Entro em minha sala e o olho para os três rostos que me encaram com certo receio.

— Pode se sentar — Aponto para a mesa que fica no centro do lugar.

Eles se acomodam rapidamente e eu puxo uma cadeira para mim.

— Bom, indo direto ao ponto, eu gostaria de pedir algo a vocês — começo. — Deixem uma vaga para estágio disponível. Pensem nisso como parte da transação.

— Só que nós não preci... — o homem leva uma cotovelada da mulher que está do seu lado e isso impede que conclua a sua fala.

— Não ligue para ele, senhor Agostini. Precisamos sim de um estagiário — a mulher negra e descontraída fuzila ao homem sem remorso.

— Não se preocupem, o salário ficará por conta da Agostini — revelo.

— Quando a pessoa pode começar? Meu amigo aqui pode ter se esquecido — aponta para o mesmo homem —, mas precisamos de uma ajuda extra para catalogar alguns livros impressos e digitais, entre outras coisas.

— Ainda não tenho a resposta — contudo, espero que seja positiva. 

O Victor não sabe de nada 😏

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O Victor não sabe de nada 😏

Mandem energias positivas pra eu conseguir postar outro capítulo amanhã 🕊🏳☮

É isso, lindezas  🦋

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