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Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura — Guimarães Rosa

Ayleen

Por trás das espreguiçadeiras, toda uma parede de vidro deixa à vista a enorme sala de estar. Victor me direciona até a lateral aberta e assim entramos na sala.

Eu nunca vi um teto tão alto em toda a minha vida. As formigas devem se sentir assim.

— Você não vai falar nada? — Victor fica incerto com a minha quietude.

Sacudo a cabeça e falo. — Eu tô absorvendo — respondo ao olhar a variedades de poltronas que há na sala de estar. Não tem televisão?

— Você não assiste tv? — toscamente, inquiro.

— Eu tenho uma sala de cinema, mas raramente uso.

Hum, claro, uma sala de cinema. Super comum.

Victor me mostra alguns ambientes da casinha até chegarmos à uma varanda com lareira, com portas de vidro de correr que dão de frente à outra piscina, só que menor.

Uns quadros abstratos estão pendurados e as paredes são pintadas de branco. Também tem algumas plantas artesanais penduradas ou em vasos no chão. Uma mesa que comporta seis pessoas está no centro do lugar. Estou de costas para Victor e de frente à mesa.

— Você tem alergia a camarão? — ele me abraça por trás, muito à vontade, e sussurra no meu ouvido.

Sua respiração quente faz cócegas no meu pescoço.

— Não tenho — me viro em seus braços, ficando de frente ao seu peito —, sua casa é linda — finalmente digo.

— O engraçado é que passo mais tempo no escritório do que aqui — ajeita o meu cabelo e o coloca atrás dos meus ombros.

— Um pouco triste não poder aproveitar as coisas legais que tem aqui — envolvo minha mão em seus fios grossos.

Ele fecha os olhos em contentamento e abre-os logo em seguida.

— Sim, mas eu não ligo muito. O trabalho sempre foi mais importante — suas mãos agarram minha cintura.

— Isso é ainda mais triste — zombo.

Victor me pega desprevenida ao fazer cosquinhas em minhas costelas.

— Ei! — grito, entre risadas — Para com isso!

— Vai continuar falando mal da minha vida? — continua com a tortura.

— Não! Morreu o assunto, eu juro!

Ele para e beija a minha testa.

— Boa menina. Vou tomar banho e logo volto. Fica à vontade — planta um selinho em meus lábios e sai da varanda.

Enquanto ele não chega, deslizo a porta para o lado e saio para a noite fresca. Acomodo-me em uma das espreguiçadeiras e curto a calmaria da noite. Então, uma ideia me surge. Tiro as rasteirinhas e me aproximo da borda da piscina.

Arrasto meu pé descoberto na água límpida. Morna, agradável.

Ajeito o meu vestido e sento-me na beirada, afundando-os na água morna. Agito os dedos, faço movimentos de vaivém; é tranquilizante. Não penso em nada a não ser nos meus pés submersos. Não sei bem quanto tempo fico ali. Parece que o tempo parou.

— Se divertindo? — Victor quebra a quietude de forma suave.

Sorrio e respondo. — Mais do que você possa imaginar.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora