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Brigas são feitas para se fazer as pazes, então dê um pouco mais de tempo— LCD Soundsystem, New York, I Love You But

Victor

Estaciono o carro e, assim que saio, os jornalistas vêm em minha direção. Não quero perder tempo falando com nenhum deles. Tenho pressa e a minha pressa se chama Ayleen.

— Victor, uma pose pra foto? — um deles me pede.

Não.

— Só uma foto — respondo.

No exato momento em que a câmera abaixa, me afasto antes que mais pedidos venham em minha direção. Deixo um murmúrio chateado para trás, no entanto, não me importo.

Assim que entro no cerimonial sou inundado por lembranças. Parando para pensar, minha vida mudou completamente desde que Ayleen chegou. Eu também mudei, olha como tô sofrendo por causa de uma ação estúpida.

Observo o lugar com um único foco: encontrá-la. Mas, para a minha infelicidade, não consigo achá-la. Algumas pessoas também estão entrando e Amélia as cumprimenta.

Seu rosto se torna mais iluminado ao me ver.

— Boa noite, senhor Agostini. Espero que goste do evento — me entrega uma espécie de portifólio contendo as obras do autor e um pouco de sua vida.

Passo os olhos rapidamente pelo folheto e a respondo.

— Obrigado. Todos os funcionários da editora chegaram? — meu interesse se encontra em uma, especialmente.

— Sim. Os meninos estão conversando com outros escritores e a nossa estagiária tá cuidando pessoalmente do autor.

Não deveria, mas sinto uma pontada de ciúme. Cresce, Victor.

— Entendi. Bom, vou conversar com algumas pessoas — entro no grande salão.

Avisto alguns conhecidos que acenam, me chamando. Caminho até eles, porém, minha mente está em outro lugar. Não sou muito útil na troca de conversa e as pessoas percebem logo de cara e desistem de continuar seja lá qual for o assunto que falavam.

O que eu vou fazer aqui até ela aparecer? Onde eu deixei o portifólio?

Sem muita alternativa, ando pelo cerimonial. Chego ao segundo andar e entro no exato lugar em que ocorreu o leilão.

O cômodo escuro se ilumina assim que encontro o interruptor. Quase posso revê-la no palco improvisado. O seu olhar, daquele dia, ainda continua fresco em minha memória.

O vestido que usava, a máscara que deixava o seu rosto misterioso. Cada mínimo detalhe.

Sacudo a cabeça e volto ao presente. Não tem nada aqui. Somente um salão vazio. As memórias estão apenas dentro de mim.

Fico mais alguns minutos observando o ambiente vazio, talvez sem nenhum propósito. Quando me dou por satisfeito, giro os calcanhares e me preparo para sair.

E então tudo acontece. Todos os barulhos ao redor silenciam-se. Me perco em algum ponto do espaço físico para apenas orbitar em torno do seu olhar.

Ayleen está parada na entrada do salão. Seus olhos se encontram com os meus por uma eternidade, ou minutos, não sei bem dizer. Tudo em mim grita para trazê-la para os meus braços.

Meus dedos formigam com a expectativa de poder senti-la novamente. Contudo, nada acontece. Apenas trocamos olhares longos que gritam muitas coisas. Muitos sentimentos.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora