Eu pensei que você poderia ser minha em um pequeno mundo, em uma noite de terça excepcionalmente chuvosa, no lugar e na hora certa — Arctic Monkeys, Knee Socks
Victor
Após duas longas semanas, hoje é o grande dia de retirar os pontos. É muito incômodo ter um corpo estranho em sua cabeça. Mais incômodo ainda é não ser capaz de ter o total controle de seu corpo.
Há alguns dias, mal pude segurar um copo e quando finalmente consegui, o bendito caiu e estilhaçou-se pelo chão. Ayleen estava na faculdade e Marta havia ido fazer compras. Então, depois de meia-hora, consegui eliminar a evidência do crime.
Além disso, minha mãe não veio um dia sequer. Em compensação, todos os dias me liga no mesmo horário, religiosamente. Toda vez que tocava no assunto de vir, eu desconversava e ela entendia o recado.
Agora, aguardo Ayleen chegar para irmos juntos. Não que eu não pudesse ir sozinho, porém, ela sabe ser insistente e eu só sei ceder à ela.
O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando.
Algo que também me deixa impaciente, é o fato de que não querem me informar como andam as coisas na empresa. Sei que minha equipe é bastante capacitada, mas eu gosto de estar a par dos acontecimentos.
Enquanto estou perdido em minhas indagações, Ayleen se aproxima. Deixo os pensamentos de lado para observá-la atravessado o gramado recém-aparado. Seus cabelos escuros soltos balançam conforme anda.
Ela tenta com muito afinco fugir da chuva, ajeita a alça da mochila no ombro esquerdo e tenta equilibrar o guarda-chuva amarelo.
Então, levanta os olhos em minha direção. Diferentemente do que esperava, a suavidade, seu semblante parece preocupado como se algo tivesse acontecido.
Quando constata o meu ar interrogativo, tenta disfarçar estampando um sorriso que não chega aos seus olhos.
O que houve?
Ayleen vem para a varanda e me abraça. Como estou sentado, minha cabeça repousa em seu busto. Retribuindo, passo as mãos por suas costas e aproveito o contato físico. O único até o momento.
Nota mental: perguntar ao médico quando posso voltar a praticar as atividades "físicas".
O abraço se estende por mais tempo do que o esperado. Tem alguma coisa errada, tenho certeza. Ela se afasta e passa a mão por minha barba.
— Oi — cumprimento, depois de um tempo.
— Oi. Tá ansioso? — me encara, mas logo desvia o olhar.
— Sim. O que aconteceu, Ayleen? Você parece preocupada... não sei, sinto que tem algo que te incomoda.
Ela congela por um momento, no entanto, se recupera rapidamente.
— São as provas. Elas me deixam um pouco aflita e estressada
Estreito os meus olhos e não sinto que seja isso, contudo, não insisto mais. Quando ela quiser, me dirá. Ou não.
— Ok...
— É melhor a gente ir logo, vou pedir ao Diogo pra preparar o carro — tiro o meu novo celular do bolso da calça e entro em contato com o meu motorista.
— Eu tô feliz por você finalmente tirar esses pontos — afaga o lado não afetado da minha cabeça.
— Eu também — abro um sorriso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Declínio
Romance⚠️NÃO RECOMENDADO PARA MENORES 🔞⚠️ O QUE VOCÊ FARIA POR AMOR? Alçada pelo desespero, a jovem Ayleen se vê nas mãos do destino. Sua vida se resume em cuidar de sua mãe doente e trabalhar incansavelmente em tudo o que for possível, ela se encontra, d...