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Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo... Meu dia é noite quando estás ausente... E à noite eu vejo o sol se estás presente... — William Shakespeare

Victor

O barulho de minha porta sendo aberta me tira o foco do documento em minhas mãos. Para entrar fazendo todo esse escândalo, só pode ser a minha mãe. Como sempre, eu acerto.

— Victor! Eu só consigo te ver quando apareço aqui. Esqueceu que tem mãe? Sou tão insignificante assim na sua vida?

Estou de bom humor, nada pode me abalar. Nem mesmo o drama da minha querida mãe.

— Mãe, a senhora me viu final de semana retrasado. Me liga constantemente. Não precisa fazer todo esse drama. Na verdade, sua vinda até aqui tem segundas intenções, não é?

A mulher puxa uma cadeira e bufa no meio do processo.

— É isso o que você pensa de mim? Não acredita na saudade maternal que sinto?

— Não, não acredito — ergo as sobrancelhas, em descaso.

Denise revira os olhos e dá de ombros.

— Que seja, vou direto ao ponto. Já tem acompanhante pro evento?

Uma sensação de déjà-vu transpassa por meu corpo e quando está indo embora, sinto um gosto amargo na boca. Muita merda aconteceu da última vez.

Mas dessa vez tenho a certeza de que a minha acompanhante está ciente de que é minha acompanhante.

— Sim, mãe, eu tenho — é tão bom dizer e ser verdade.

Dona Denise não me dá muito crédito.

— A Magda não vale, Victor. Dá última vez você conseguiu me enganar, mas eu não tô caindo dessa vez.

— Mãe, tô falando a verdade. Não é a Magda. Então pode guardar a sua coleção de candidatas.

Minha mãe estreita os olhos para mim e aponta o dedo em riste em minha direção.

— Espero que não esteja mentindo, Victor! Quem é? Eu conheço?

Duvido muito.

— Não, a senhora não a conhece. Ela é alguém especial pra mim.

Denise chega o seu corpo para frente e se choca com minha afirmação.

— Especial? Você tá namorando? Como que eu só soube disso agora? Isso não se faz, Victor!

Sinto uma pontada na fronte com esse interrogatório.

— Mãe, não tô namorando. Eu só... — não sei o que dizer.

— Como assim, Victor? Ela é especial, mas não suficiente pra ser sua namorada? O que é isso?

Como eu posso explicar algo que nem eu mesmo entendo?

— Mãe, ela é o meu alguém especial. Apenas isso. Não vou colocar nenhum rótulo no que temos ou fazer promessas levianas. Quero aproveitar o momento e é isso.

O coração bate descompassado quando a vejo, minha respiração trava por alguns segundos e me quebra ver as suas lágrimas. Quero estar constantemente ao seu lado e isso já se tornou uma necessidade.

— E ela é de qual família? — os olhos da mais velha chegam a brilhar de excitação.

De tudo o que falei, essa é a preocupação dela?

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora