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De longe te hei de amar — da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância — Cecília Meireles

Victor

72 HORAS ANTES

Pouco depois de deixar Ayleen em casa, sou informado de que preciso fazer uma viagem com urgência para resolver um conflito em uma de nossa empresas localizada em Brasília. A primeira coisa que faço, ao descobrir, é informá-la.

Eu só queria passar um dia inteiro com ela sem ninguém nos perturbando. Devo considerar uma viagem com destino a um lugar inalcançável?

Ayleen se fundiu a mim de um jeito irrevogável. A minha vida parece ter ganhado um propósito além de trabalhar. E eu gosto muito disso. Muito mesmo.

Basta ela sorrir e pronto. Meu dia fica feliz.

Cercado pela nuvem do fascínio, vou direto para o aeroclube pegar um jatinho. Quanto mais rápido, melhor.

Espero Diogo chegar e prosseguimos. O voo é rápido como eu queria. Chegamos à empresa e tudo está um grande caos. Os executivos discutem entre si por causa de um novo investimento que precisa da minha aprovação.

Uns são contra o e outros a favor. Eu tenho que ser o mediador dos danos. Gasto quase uma hora e meia com eles. Por fim, o investimento se mostra instável e duvidoso. As taxas são muito maiores do que o lucro. Descarto a hipótese.

Homens velhos que não sabem resolver uma situação como essa... tem que ter muita paciência.

Deixo a empresa com dor de cabeça e saudade dela. Tô ficando mais patético a cada dia.

No meio da minha saída, os homens pedem para tomarem um café comigo. Pego o meu celular do bolso da calça e vejo que está sem carga. Que ótimo e eu fiz a burrada de não trazer a merda do carregador.

Aceito e convite e peço para Diogo ir primeiro. Ele assente e parte.

— Estamos muito felizes que tudo se resolveu, Victor — um dos homens comenta.

Optamos por ficar no restaurante da empresa.

— Eu digo o mesmo. Bom, senhores, preciso ir — me levanto, em despedida.

— Vou pedir ao motorista pra te levar — o outro sugere.

Não vendo nenhum problema, consinto e aguardo. Um tempo depois, um homem uniformizado me acompanha até o carro. A viagem segue tranquila, aparentemente. Queria falar com Ayleen...

Tento ligar o aparelho, mas é inútil. Quando vou perguntar ao motorista se tem algum carregador disponível, algo nos atinge. Tudo gira dentro do veículo, a sensação é que estamos no ar, girando, girando e girando.

Sinto minha carne sendo rasgada por vários cacos de vidro. Não ouço nada, não vejo nada. Tudo fica escuro. A inconsciência me apreende e o último pensamento que tenho é: será que nunca mais vou vê-la? E, enfim, apago.

AGORA

Minha cabeça dói de uma forma que nunca senti. Todo o meu corpo está dolorido. Respirar se mostra uma tarefa bastante complicada. Minha garganta está seca. Preciso de água.

Ouço uns bipes e tento observar onde estou. Mas mover os olhos é uma grande luta. Acabo desistindo. Algo me diz que tô em hospital.

Que porra aconteceu comigo?

Por que tô no hospital?

Para minha sorte, uma enfermeira entra uns 15 minutos depois de eu ter acordado. Seu semblante fica animado quando vê que estou consciente. Checa os meus sinais vitais e pressiona um botão, chamando o médico. Entram dois.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora