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Nos teus mais doces lábios ficam os meus livres do pecado — William Shakespeare

Ayleen

Estou terminando de aplicar a segunda camada de rímel quando ouço duas batidas à porta. Tenho certeza de que é o Victor. Após o pensamento, um sorriso de felicidade surge nos meus lábios. Bufo e aceito o fato de que a presença dele me alegra.

Mentir ou evitar a verdade não vai me levar a lugar nenhum. Além disso, o aperto na boca do meu estômago só de pensar nele lá fora, não passa despercebido.

Passo o gloss em meus lábios, ficando sutilmente avermelhados. Ajeito o meu cabelo solto e me conformo com as ondas rebeldes e selvagens. Não tem o que fazer.

Estou prestes a atendê-lo, mas antes, paro em frente ao espelho do guarda-roupa para me ver de corpo inteiro. Não que desse tempo de trocar de roupa, caso fosse necessário.

No entanto, a escolha que fiz me satisfaz: optei por um vestidinho coral com um leve decote em V. Ele vai até metade da coxa; suas alças são em nós e a barra tem um babado bem leve.

Também coloquei um cordãozinho de prata fino com um pingente de estrela que minha mãe me deu quando eu fiz 13 anos. Toco a pequena estrela e suspiro saudosamente.

Vou ser feliz, mãe... depois eu penso nas consequências.

Respiro fundo, pego a bolsa de alça fina preta em cima da cama, guardo o meu celular dentro dela; calço minha rasteirinha e vou de encontro a ele.

Em poucos passos, alcanço a porta de entrada. Destranco-a e escancaro.

Victor está escorado na parede em frente à minha entrada, lindamente vestido com uma calça social preta e uma blusa branca de botões dobrada até os seus antebraços malhados.

Não apenas isso, os dois primeiros botões de sua blusa estão desfeitos me dando a visão do seu peitoral. Engulo em seco e volto a encarar os seus olhos. Um sorriso conhecedor desponta em seus lábios.

Mas os seus olhos passeiam por meu corpo. Sinto o calor de seu olhar por toda a minha pele. Começando da ponta dos dedos dos pés e terminando em meu coro cabeludo. O que é isso?

Victor desencosta da parede e fecha a distância entre nós com pouquíssimos passos largos. Dois, mas quem tá contando?

Com uma urgência desenfreada, suas mãos tomam o meu corpo me puxando para o seu peito. Ele mantém uma delas possessivamente em minhas costas e, com a outra, segura o meu queixo.

Em consequência, minhas mãos sobem para o seu pescoço. A chave tilintando entre os meus dedos...uma trilha sonora.

Seu nariz vai diretamente para o meu pescoço e sua barba crescente me faz cócegas. Sinto-o deslizar o nariz como bem quer pelo meu pescoço.

— Deliciosamente cheirosa — sussurra, provocando uma vibração sobre minha pele sensível.

Ainda não satisfeito, desce o rosto e para com o bendito nariz no meio do meu inocente decote. Minha pele se arrepia ainda mais e um tremor involuntário perpassa por mim. Victor inspira profundamente e planta um beijo no vão do meu decote.

O beijo ligeiramente úmido, fraqueja as minhas pernas e se não fosse por sua mão, eu poderia muito bem estar no chão. Por fim, ele deixa um beijo casto no canto dos meus lábios; quase uma zombaria.

— Estamos em público, não podemos assustar as crianças — fala, despreocupadamente, com o rosto bem próximo ao meu.

Minhas mãos descem e seguram sua blusa.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora