As Batidas do Coração [Parte1]

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Yuji não conseguia dormir, as palavras de Toji giravam por sua mente em uma espiral turva e asfixiante.

Naquela tarde Megumi tinha vindo o ajudar com seus trabalhos escolares e por algum motivo Toji também o acompanhou. Não que o garoto mais velho fosse um incômodo, ao contrário, ao longo dos meses ao qual vivia em Tóquio, Yuji e ele tinham criado uma certa proximidade ao qual se podia chamar amizade. Sempre que ia a casa dos Fushiguro ver Megumi, inevitavelmente conversavam, apesar de ser Yuji quem falava mais. Toji muitas vezes apenas o observava de uma forma que o deixava curioso e envergonhado.

Tinham terminado seus deveres e Yuji iria decer para a cozinha para preparar seus lanches, iria pedir a Sukuna que o ajudasse, mas antes que abrisse a boca, Toji se ofereceu, o garoto mais jovem não teve escolha a não ser aceitar. Estavam conversando sobre qualquer coisa boba, enquanto Yuji levava o frango frito picante ao micro-ondas. Tinha o comprado horas antes porque sabia que apenas comida podia convencer Sukuna ao o ajudar, nem mesmo que fosse um pouco. Então como se surgissem do nada aquelas palavras se adentraram em sua mente e simplesmente se apoderaram dela.

"É uma pena que Satoru não pode vir. Parece que iria "ajudar" uma garota ou coisa assim... Foi o que eu ouvi."

Ele tinha dito tudo aquilo de forma tão casual, como se dissesse as horas ou se iria chover ou fazer sol amanhã a alguém que o perguntou, apesar de seu tom ter subitamente se acentuado na palavra ajudar.

Yuji tinha apenas sorrido e dito que realmente era uma pena seu sempai não ter vindo, já que ele claramente era alguém notoriamente inteligente. Mas essa não era a verdade. Seu coração doía em seu peito, como se fosse esmagado por uma mão cruel, ao pensar qual tipo de ajuda Satoru a estava dando. Pelo sorriso desavergonhado de Toji quando Yuji se virou para ele e como piscou lentamente um de seus olhos. A resposta era óbvia e o garoto de cabelos rosa não gostava dela.

Tudo aquilo não tinha o mínimo sentido. Yuji não queria que seu sempai  ajudasse seja la quem fosse, não importava o quão necessário ele era. Mas quem ele era para questionar o que seu sempai fazia o deixava de fazer. Yuji não tinha qualquer direito sobre Satoru, assim como o garoto de óculos não tinha a necessidade de lhe dar qualquer explicação, apesar de desejar com todo seu ser que este o fizesse. Agora não conseguia dormir apesar de estar tão cansado. Já tinha perdido a noção de quanto tempo apenas observava o teto de seu quarto, deitado em sua cama. Exasperado daquela pressão se levantou para ir até a cozinha, talvez um copo de leite morno o ajudasse.

-...Yuji?

Ouviu a voz de seu pai as suas costas. Se virou o encontrando de pé ao lado da porta da cozinha.

-Também não consegue dormir. -Disse mais como uma afirmação do que uma pergunta.

-Sim. Quer um pouco? -Yuji ofereceu o leite que estava aquecendo.

-Claro. -Disse o homem mais velho se sentado em um das cadeiras perto da bancada.

Enchendo duas canecas com a bebida esfumaçante, se sentou ao lado de seu pai e entregou uma a ele.

Yuji o observava pelo canto dos olhos enquanto soprava sua bebida. A semelhança entre os dois era assustadora. Ele se perguntava se ao envelhecer se tornariam cada vez mais parecidos. Provavelmente sim.

-Algum problema? -Ele o questionou.

Não. Ele queria dizer, mas essa não era a verdade. Muitos. Naquele momento ele tinha muitos problemas. E em especial um de cabelos brancos e olhos azuis. Porém não queria conversar sobre aquilo com seu pai, eles tinham se reencontrado a tão pouco tempo e apesar de estarem construindo uma relação feliz que ele desejava que fosse duradoura, ainda tinha medo da reação de seu pai ao descobrir certas partes de sua vida que apenas Megumi conhecia.

ENTRE O AZUL E O INFINITOOnde histórias criam vida. Descubra agora