Rosa e Azul

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Gojo Satoru sempre recebeu inúmeros presentes ao longo dos seus dezoito anos de vida, ainda assim este que repousava agora em seus dedos trêmulos, era inegavelmente o melhor que já tinha ganhado.

Por ser o único herdeiro do conglomerado Gojo, desde o momento que foi anunciado seu nascimento foi presenteado com todo o tipo de coisas. De roupas de bebê de grifes famosas, brinquedos para uma vida toda, até carros, joias e apartamentos.

Em seus aniversários era exatamente igual, todos queriam de algum modo agradar ao jovem mestre. Pessoas aos quais não conhecia o bajulavam e demonstravam como seus presentes eram melhores. Porém não importava quantas caixas embaladas de forma espalhafatosa tivesse ao final do dia, os mais apreciados sempre seríam os de seus pais. É claro, quando estes se lembravam de o presentear.

Satoru não se recordava muito bem de quando era apenas um garotinho, mas se lembrava da constante presença de seus pais, das histórias dos livros que contavam a noite e do beijo de bom dia na manhã seguinte. Entretanto, conforme o tempo seguia seu curso como as águas de um rio, a distância entre ele e seus progenitores se tornou maior ao longo dos anos. Já não participavam de eventos do seu cotidiano, como reuniões e eventos escolares, não viam suas apresentações teatrais ou o buscavam quando retornava de acampamentos de verão. Raramente estavam em casa e quando estavam, diziam estar ocupados demais para ouvir o apenas ver o seu filho.

O albino se sentia triste, ainda assim fingia estar bem. Criava incontáveis desculpas de que tudo o que faziam era por ele, para que tivesse seu futuro assegurado. As vezes quando seus pais ligavam o parabenizando por ter conseguido a nota máxima em um teste, ou quando enviavam presentes seja de natal ou de aniversário, ele acreditava que o quê ele pensava talvez não fosse apenas uma mentira, porém rapidamente via suas ilusões se desmoronarem ao descobrir que eles dois apenas sabiam, porque aqueles que cuidavam dele os contava. Ele se achava um completo idiota nestes momentos, era óbvio que alguém os revelava, porque era impossível que eles soubessem quais presentes desejava ou sua situação escolar.

Acreditava que provavelmente nem mesmo a sua idade eles sabiam, ainda assim os presentes chegavam e ele sempre agradecia com um sorriso no rosto, por mais que tivesse um mal sabor em sua boca. O mesmo acontecia com aqueles tolos que queriam estar em bons termos com a família Gojo, o presenteando com coisas supérfluas e insignificantes.

Os únicos ao quais ele se sentia genuinamente feliz em receber, eram os de seus amigos, porque sabia que não tinham segundas intenções por trás deles, nem eram escolhidos ao azar. Todos estavam embalados com apreço, afeto e amor.

Amor que ele sentia emanar da caixa preta com laço azul em sua mão. O primeiro presente de natal de Yuji para ele. Algo que seu pequeno algodão-doce; sua flor de cerejeira; seu namorado, tinha o dado com receio, sem saber o quanto apenas o ato de o presentear, o deixava extremamente contente.

Satoru não era alguém que ficava em silêncio facilmente, mas todas as palavras em sua mente hiperativa, voaram pelo ar como folhas secas sopradas pela brisa ao abrir aquela caixa. O albino sentiu uma cálidez em seu peito que jamais tinha sentido antes, era algo deslumbrante e assustador e que não conseguiria explicar mesmo que tentasse, porém queria o preservar dentro de se, queria continuar a o sentir por toda a finitude de sua vida.

-...Yuji...

-...Satoru.

-Obrigado Yuji!! É o melhor presente que eu já ganhei em toda a minha vida!!!

-...Eu...

Foi interrompido quando o albino o agarrou e o abraçou com força, quase com desespero.

ENTRE O AZUL E O INFINITOOnde histórias criam vida. Descubra agora