Capítulo 42

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    Tem mais de 36 horas, que eu não vejo minha filha.

    Mais de 36 horas que não como, estou vivendo a base de água.

    Mais de 36 horas, que meu coração não bate de forma certa, porque tá faltando um pedaço dele.

    Mais de 36 horas, que eu morri por dentro...

    Estou tendo pesadelos todos os dias. Hoje, foi com um carro branco, ele era um Corolla. Os vidros eram todos fumês, e ele tinha um detalhe estranho no fundo, parecia um amassado. Eu me aproximei e vi um bebê lá dentro, e era a minha filha. Mas ninguém me via, ninguém me ouvia, e eu não conseguia gritar. Eu ouvia ela chorar muito, e aos poucos ela foi parando de respirar junto comigo. Era como se eu fosse o oxigênio dela, e quando eu parei, ela parou junto.

    Os policiais não pararam com as buscas, nem um segundo. Os pais da Marilia vieram, e contrataram os melhores advogados, e investigadores do mundo. Minha irmã também está um caco. Ontem acabei parando no hospital, tive uma crise horrível, meu corpo inteiro paralisou e formigou ao mesmo tempo, eu jurei que iria morrer ali.

    Foi como uma paralisia do sono, eu estava acordada, e vendo tudo. Mas não conseguia mexer nada. Maraisa e Marilia disseram que eu quase parei de respirar, fui pro hospital desacordada. Mas me medicaram, e tá tudo bem agora. Que bela mentira! Não, não tá tudo bem. Minha filha tá desaparecida, aquele idiota me estrupou, tenho medo do que pode fazer com um serzinho tão pequeno.

    Hoje em específico, estão espalhados pela cidade inteira, disseram ter visto o carro do Louis em algum lugar ontem. Engraçado que no começo, nossa preocupação era minha metade. Seu coração ameaçando parar, e colocando ela em risco, mas agora todos estão me poupando. Nunca me deixam sozinha, sempre tem alguém aqui comigo, ninguém tá saindo muito na verdade, mas quando precisam sair, não me deixam sozinha.

    Marilia tá tentando não demonstrar seus sentimentos, mas ela também não tá bem. Bruno e Luisa estão aqui sempre, e a casa voltou a ser cheia de seguranças. Agora estávamos todos na sala de cinema, resolvemos assistir alguma coisa pra distrair, mas minha cabeça não parava de pensar na minha filha.

    – Será que ele tá alimentando ela direitinho? – Perguntei no meio do filme – Ela ainda mama, não tá acostumada comer outra coisa, será que ela tá comendo direito?

    – Irmã...

    – Ela é só um bebê, eu só queria entender porque ele pegou ela e não eu?

    Me levantei, e como sempre me sentia tonta, tudo ficava preto por uns 5 segundos, e enquanto voltava ao normal eu me sentia tonta.

    – Tudo bem?

    – Sim. Eu vou pro quarto! – Bruno segurou minha mão.

    – Você precisa comer, não pode sobreviver só com água.

    – Também não posso sobreviver sem a minha filha.

    Todos os olhares vieram pra mim, e eu sentia o olhar de pena com um fundo de tristeza em todos eles. Eu subi pro quarto, e fechei a porta, só não tranquei. Precisa de um tempo, precisava fazer algo pra tirar essa dor de mim e não queria ser incomodada.

    Pensei em muita coisas, e a maioria, acabava comigo morta. Mas eu ainda tenho esperanças de achar a Isabella, então, fui pra opção que visava ser a melhor. Meus pais sempre tiveram coisas de pronto socorro em casa, em todos os quartos tinha um kit. Nele tinha bisturi, coisas de sutura, até um desfibrilador tinha.

    Meus pais fizeram um curso de primeiros socorros quando tínhamos 2 anos, e eu nunca entendi o porquê. Até descobrir que eu, e minha irmã quase morremos depois de nascer. Então, talvez eles fizeram isso pra nos proteger.

Sempre foi elaOnde histórias criam vida. Descubra agora