Capítulo 68

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    Enquanto a gente assistia filme, Maraisa dormiu na metade dele. E eu fiquei com dó de acordar ela, então terminei de ver o filme sozinha. Isabella continuava dormindo, Léo e Marilia também, e Letícia estava terminando de passar as roupas pra ir embora. E é nessas horas de silêncio que eu começo a pensar no Cesar; e consequentemente, na mamãe também.

    Quimioterapia não é fácil. Na verdade, é devastador. É cansativo, e doloroso. E o Cesar deve estar tão assustado com tudo isso, que só de imaginar eu me sinto muito mal. Eu queria poder fazer alguma coisa, não por ela, e sim pelo Cesar. Eu acompanhei a Jhuly, vi o quão difícil era, e vi o quanto os filhos dela sofreram.

    A campainha tocou me despertando dos meus pensamentos, mas não me levantei porque Letícia estava aqui. E também, porque minha irmã estava dormindo apoiada em mim. Esperei ela vir e me dizer quem era, mas isso não aconteceu, então cogitei que era alguma entrega. Uns 10 minutos depois da campainha tocar, Letícia apareceu com a Isabella deitada no seu ombro. Ela demora um pouco pra acordar de verdade.

    – Ela estava querendo mamar. – Letícia falou.

    – Vem, mamãe. – Chamei a mais nova. – Quem tocou a campainha?

    – O entregador. Chegou algumas caixas, cogitei ser roupa.

    – Comprei algumas coisas pro Léo e pra Isabella, deve ser isso. – Ela assentiu – Quantos anos sua filha tem mesmo?

    – 1 aninho.

    – É que tem umas roupas da Isabella perdidas, estão em ótimas condições. Se você quiser levar, cê pode. – Ela sorriu assentindo.

    – A gente não recusa presente não, Mai. Claro que eu aceito.

    – Eu vou separar, e aí cê leva amanhã, tá bom? – Confirmou.

    – Vou terminar de passar as roupas. Licença.

    Coloquei Isabella pra mamar e ela estava quase dormindo de novo, mas eu não deixei. Se ela dormisse agora não iria conseguir dormir mais tarde. Minha irmã foi despertando também, e eu sorri quando ela me olhou cobrindo o rosto.

    – Desculpa! Dormi o filme todo não foi?

    – Tá tudo bem. – Acariciei seu rostinho amassado – Você comeu hoje?

    – Ainda não, acredita? De manhã Marilia tomou café e eu fiquei com o Léo, não estava com fome. E no almoço ele estava chatinho, não queria ficar no berço e acabei fazendo a mesma coisa. – Isabella largou meu seio.

    – Mamãe, a gente vai no shopping? – Assenti.

    – Vamos. Agora são 18h, já já a gente vai se arrumar. – Beijei seu rosto – Vamo comer.

    – Eu não tô com fome ainda.

    – Eu vou sair e você vai ficar sozinha com a Marilia e o Léo, e se acontece alguma coisa? Levanta logo e vamo comer. – Ela bufou – Seus remédios? Tá tomando? – Ela permaneceu em silêncio – Ok. Filha, pode ir ver se o Luck tem água e ração?

    – Tá bom, mamãe.

    – Maiara... – Me levantei.

    – Olha só, você tem uma esposa, uma irmã, uma sobrinha, e agora um filho! – Ela cruzou os braços – Se não quer viver por você, viva por eles. Viva pelo seu filho. Você queria ter um filho, e queria estar viva pra poder ver isso acontecer. E agora você vai desistir? Seu coração tá parando, e você sabe disso. E por pior que seja, seus medicamentos te fazem ficar viva por mais tempo.

Sempre foi elaOnde histórias criam vida. Descubra agora